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Mestres da Literatura: Luis Fernando Verissímo

Luis Fernando Verissimo (Porto Alegre, 26 de setembro de 1936) é um escritor brasileiro. Mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. Já foi publicitário e copy desk de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É filho do também escritor Erico Verissimo.

Formação

Nascido e criado em Porto Alegre, Luis Fernando viveu parte de sua infância e adolescência nos Estados Unidos, com a família, em função de compromissos profissionais assumidos por seu pai - professor na Universidade de Berkeley (1943-1945) e diretor cultural da União Pan-americana em Washington (1953-1956). Como consequência disso, cursou parte do primário em San Francisco e Los Angeles, e concluiu o secundário na Roosevelt High School, de Washington.

Aos 14 anos produziu, com a irmã Clarissa e um primo, um jornal periódico com notícias da família, que era pendurado no banheiro de casa e se chamava "O Patentino" (patente é como é conhecida a privada no Rio Grande do Sul).

No período em que viveu em Washington, Verissimo desenvolveu sua paixão pelo jazz, tendo começado a estudar saxofone e, em frequentes viagens a Nova York, assistido a espetáculos dos maiores músicos da época, inclusive Charlie Parker e Dizzy Gillespie.

Primeiros trabalhos

De volta a Porto Alegre em 1956, começou a trabalhar no departamento de arte da Editora Globo . A partir de 1960, fez parte do grupo musical Renato e seu Sexteto, que se apresentava profissionalmente em bailes na capital gaúcha, e que era conhecido como "o maior sexteto do mundo", porque tinha 9 integrantes.

Entre 1962 e 1966, viveu no Rio de Janeiro, onde trabalhou como tradutor e redator publicitário, e onde conheceu e casou-se (1963) com a carioca Lúcia Helena Massa, sua companheira até hoje e mãe de seus três filhos (Fernanda, 1964; Mariana, 1967; e Pedro, 1970).

Em 1967, de novo em sua cidade natal, começou a trabalhar no jornal Zero Hora, a princípio como revisor de textos (copy desk). Em 1969, depois de cobrir as férias do colunista Sérgio Jockymann e poder mostrar a qualidade e agilidade de seu texto, passou a assinar sua própria coluna diária no jornal. Suas primeiras colunas foram sobre futebol, abordando a fundação do Estádio Beira-Rio e os jogos do Internacional, seu clube do coração. No mesmo ano, tornou-se redator da agência de publicidade MPM Propaganda.

Em 1970 transferiu-se para o jornal Folha da Manhã, onde manteve sua coluna diária até 1975, escrevendo sobre esporte, cinema, literatura, música, gastronomia, política e comportamento, sempre com ironia e ideias pessoais, além de pequenos contos de humor que ilustram seus pontos de vista.

Em 1971 criou, com um grupo de amigos da imprensa e da publicidade porto-alegrense, o semanário alternativo O Pato Macho, com textos de humor, cartuns, crônicas e entrevistas, e que vai circular durante todo o ano na cidade.

Primeiros livros publicados

Em 1973 lançou, pela Editora José Olympio, seu primeiro livro, O Popular, com o subtítulo "crônicas, ou coisa parecida", uma coletânea de textos já veiculados na imprensa, o que seria o formato da grande maioria de suas publicações até hoje. O livro de estreia de Verissimo recebeu elogios do importante crítico literário Wilson Martins, em O Estado de São Paulo.

Em 1975, voltou ao jornal Zero Hora, onde permanece até hoje, e passou a escrever semanalmente também no Jornal do Brasil, tornando-se nacionalmente conhecido. Publicou seu segundo livro de crônicas, A Grande Mulher Nua e começou a desenhar a série "As Cobras", que no mesmo ano já rendeu uma primeira publicação de cartuns.

Em 1979, publicou seu quinto livro de crônicas, "Ed Mort e Outras Histórias", o primeiro pela Editora L&PM, com a qual trabalharia durante 20 anos. O título do livro refere-se àquele que viria a ser um dos mais populares personagens de Luis Fernando Verissimo. Uma sátira dos policiais noir, imortalizados pela literatura de Raymond Chandler e Dashiell Hammett e por filmes interpretados por Humphrey Bogart, Ed Mort é um detetive particular carioca, de língua afiada, coração mole e sem um tostão no bolso, que passou a protagonizar uma tira de quadrinhos desenhada por Miguel Paiva e publicada em centenas de jornais diários, gerou uma série de cinco álbuns de quadrinhos (1985-1990) e ainda um filme com Paulo Betti no papel-título.

Entre 1980 e 1981, Verissimo viveu com a família por 6 meses em Nova York, o que mais tarde renderia o livro "Traçando Nova York", primeiro de uma série de seis livros de viagem escritos em parceira com o ilustrador Joaquim da Fonseca e publicados pela Editora Artes e Ofícios.

Popularidade nacional

Em 1981, o livro "O Analista de Bagé", lançado na Feira do Livro de Porto Alegre, esgotou sua primeira edição em dois dias, tornando-se fenômeno de vendas em todo o país. O personagem, criado (mas não aproveitado) para um programa humorístico de televisão com Jô Soares, é um psicanalista de formação freudiana ortodoxa, mas com o sotaque, o linguajar e os costumes típicos da fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai e a Argentina. A contradição entre a sofisticação da psicanálise e a "grossura" caricatural do gaúcho da fronteira gerou situações engraçadíssimas, que Verissimo soube explorar com talento em dois livros de contos, um de quadrinhos (com desenhos de Edgar Vasques) e uma antologia.

Em 1982 passou a publicar uma página semanal de humor na revista Veja, que manteria até 1989.

Em 1983, em seu décimo volume de crônicas inéditas, lançou um novo personagem que também faria grande sucesso, a Velhinha de Taubaté, definida como "a única pessoa que ainda acredita no governo". O ingênuo personagem, que dera a seu gato de estimação o nome do porta-voz do Presidente-General Figueiredo, marcava a decadência do governo militar brasileiro, que já estava quase completando 20 anos. Mas, anos depois, em plena democracia, Veríssimo faria reviver a Velhinha de Taubaté, ironizando a credibilidade dos presidentes civis, especialmente Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.

Em toda a década de 1980, Veríssimo consolidou-se como um fenômeno de popularidade raro entre escritores brasileiros, mantendo colunas semanais em vários jornais e lançando pelo menos um livro por ano, sempre nas listas dos mais vendidos, além de escrever para programas de humor da TV Globo.

Em 1986, morou seis meses com a família em Roma, e cobriu a Copa do Mundo para diversas revistas. Em 1988, sob encomenda da MPM Propaganda, escreveu seu primeiro romance, "O Jardim do Diabo".

Homem de idéias                                                         

Em 1989, começou a escrever uma página dominical para o jornal O Estado de São Paulo, mantida até hoje, e para a qual criou o grupo de personagens da Família Brasil. No mesmo ano, estreou no Rio de Janeiro seu primeiro texto escrito especialmente para teatro, "Brasileiras e Brasileiros". E ainda recebeu o Prêmio Direitos Humanos da OAB.

Em 1990, passou 10 meses com a família em Paris e cobriu a Copa da Itália para os jornais Zero Hora, Jornal do Brasil e O Estado de São Paulo, o que voltaria a fazer em 1994, 1998, 2002 e 2006.

Em 1991 publicou uma antologia de crônicas para crianças ("O Santinho", com ilustrações de Edgar Vasques) e outra para adolescentes ("Pai não Entende Nada").

Em 1994, a antologia de contos de humor "Comédias da Vida Privada" foi lançada com grande sucesso, vindo a tornar-se um especial da TV Globo (1994) e depois uma série de 21 programas (1995-1997), com roteiros de Jorge Furtado e direção de Guel Arraes. Verissimo publicaria ainda uma nova antologia de contos, "Novas Comédias da Vida Privada" (1996) e, por contraste, uma série de crônicas políticas até então inéditas em livro, "Comédias da Vida Pública" (1995).

Em 1995, intelectuais brasileiros convidados pelo caderno "Idéias" do Jornal do Brasil elegeram Luis Fernando Veríssimo o Homem de Idéias do ano. A esta seguiram-se outras homenagens: em 1996, "Medalha de Resistência Chico Mendes" da ONG Tortura Nunca Mais, "Medalha do Mérito Pedro Ernesto" da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro e "Prêmio Formador de Opinião" da Associação Brasileira de Empresas de Relações Públicas; culminando, em 1997, com o "Prêmio Juca Pato", da União Brasileira de Escritores como o Intelectual do ano. Em 1999, recebeu ainda o Prêmio Multicultural Estadão.

De volta à música

Ainda em 1995, por iniciativa do contrabaixista Jorge Gerhardt, foi criado o grupo Jazz 6, este certamente "o menor sexteto do mundo", com apenas 5 integrantes: além de Verissimo no saxofone e Gerhardt no contrabaixo, fazem parte do grupo Luiz Fernando Rocha (trompete e flugelhorn), Adão Pinheiro (piano) e Gilberto Lima (bateria).

Sendo Gerhardt, Rocha, Pinheiro e Lima "músicos em tempo integral", o grupo depende da agenda de Veríssimo para se apresentar, mas já tem 13 anos de estrada e 4 CDs lançados: "Agora é a Hora" (1997), "Speak Low" (2000), "A Bossa do Jazz" (2003) e "Four" (2006).

Novos rumos

Em 1999, Veríssimo deixou de desenhar as tiras de "As Cobras" e mudou de editora, trocando a L&PM pela Objetiva, que passou a republicar toda a sua obra. Uma destas antologias, "As Mentiras que os Homens Contam" (2000), já vendeu mais de 350 mil exemplares.

Em 2003, resolveu reduzir seu volume de trabalho na imprensa, passando de seis para apenas duas colunas semanais, agora publicadas em Zero Hora, O Globo e O Estado de São Paulo.

A partir de solicitações geradas pelas editoras, Veríssimo deixou de ser o "grande escritor de textos curtos" e emendou uma série de novelas e romances: "Gula - O Clube dos Anjos" (1998) coleção "Plenos Pecados" da Objetiva; "Borges e os Orangotangos Eternos" (2000), para a coleção "Literatura ou Morte" da Cia das Letras; "O Opositor" (2004) para a coleção "Cinco Dedos de Prosa" da Objetiva; "A Décima Segunda Noite" (2006), para a coleção "Devorando Shakespeare" da Objetiva; e ainda "Sport Club Internacional, Autobiografia de uma Paixão" (2004), para a coleção "Camisa 13" da Ediouro.

Em 2003, uma reportagem de capa da revista Veja destacou Veríssimo como "o escritor que mais vende livros no Brasil". Ao mesmo tempo, a versão em inglês de "Clube dos Anjos" ("The Club of Angels") é escolhida pela New York Public Library como um dos 25 melhores livros do ano.

Em 2004, na França, recebeu o Prix Deux Oceans do Festival de Culturas Latinas de Biarritz.

Em 2006, Verissimo chegou aos 70 anos de idade consagrado como um dos maiores escritores brasileiros contemporâneos, tendo vendido ao todo mais de 5 milhões de exemplares de seus livros. Em 2008, sua filha Fernanda deu-lhe a primeira neta, Lucinda, nascida no dia do aniversário do Sport Club Internacional, 4 de abril.

Personagens

  • Ed Mort
  • Velhinha de Taubaté
  • Analista de Bagé
  • As Cobras
  • Família Brasil
  • Dorinha (Veríssimo)

Livros publicados

Crônicas e contos (inéditos)

  • O Popular (1973, ed. José Olympio)
  • Amor Brasileiro (1977, ed. José Olympio)
  • O Rei do Rock (1978, ed. Globo)
  • Ed Mort e Outras Histórias (1979, ed. L&PM)
  • O Analista de Bagé (1981, ed. L&PM)
  • A Mesa Voadora (1982, ed. Globo)
  • Outras do Analista de Bagé (1982, ed. L&PM)
  • A Velhinha de Taubaté (1983, ed. L&PM)
  • A Mulher do Silva (1984, ed. L&PM)
  • A Mãe de Freud (1985, ed. L&PM)
  • Zoeira (1987, ed. L&PM)
  • Noites do Bogart (1988)
  • Pai Não Entende Nada (1990, ed. L&PM)
  • O Santinho (1991, ed. L&PM)
  • O Suicida e o Computador (1992, ed. L&PM)
  • Comédias da Vida Pública (1995, ed. L&PM)
  • A Versão dos Afogados - Novas Comédias da Vida Pública (1997, ed. L&PM)
  • A Mancha (2004, ed. Cia das Letras, coleção Vozes do Golpe)

Crônicas e contos (antologias e reedições)

  • O Gigolô das Palavras (1982, ed. L&PM)
  • Comédias da Vida Privada (1994, ed. L&PM)
  • Novas Comédias da Vida Privada (1996, ed. L&PM)
  • Ed Mort, Todas as Histórias (1997, ed. L&PM)
  • Aquele Estranho Dia que Nunca Chega (1999, Editora Objetiva)
  • A Eterna Privação do Zagueiro Absoluto (1999, Editora Objetiva)
  • Histórias Brasileiras de Verão (1999, Editora Objetiva)
  • As Noivas do Grajaú (1999, ed. Mercado Aberto)
  • Todas as Comédias (1999, ed. L&PM)
  • Festa de Criança (2000, ed. Ática)
  • Comédias para se Ler na Escola (2000, Editora Objetiva)
  • As Mentiras que os Homens Contam (2000, Editora Objetiva)
  • Todas as Histórias do Analista de Bagé (2002, Editora Objetiva)
  • Banquete Com os Deuses (2002, Editora Objetiva)
  • O Nariz e Outras Crônicas (2003, ed. Ática)
  • O Melhor das Comédias da Vida Privada (2004, Editora Objetiva)
  • Mais comédias para ler na escola (2008, Editora Objetiva)

Genêro Literário: Crônicas

Assim como a fábula e o enigma, a crônica é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as principais características da crônica, técnicas de sua redação e terá exemplos.

Uma das mais famosas crônicas da história da literatura luso-brasileira corresponde à definição de crônica como "narração histórica". É a "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha", na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia a dia. Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis:

Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina-se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos.

A crônica se diferencia no jornal por não buscar exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, singular.

O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades.

Jornalismo e literatura

É assim que podemos dizer que a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a observação atenta da realidade cotidiana e do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo.

Fato corriqueiro...

Há na crônica uma série de eventos aparentemente banais, que ganham outra "dimensão" graças ao olhar subjetivo do autor. O leitor acompanha o acontecimento, como uma testemunha guiada pelo olhar do cronista que tem a pretensão de registrar de maneira pessoal o acontecimento. O autor dá a um fato corriqueiro uma perspectiva, que o transforma em fato singular e único.

No caso da crônica "Recado ao Senhor 903", há uma crítica à desumanização na cidade grande, na qual somos, muitas vezes, apenas números e não pessoas. O surpreendente é a inversão proposta pelo narrador ao final da crônica: no lugar da intolerância, tão comum nas cidades grandes, ele propõe um possível acolhimento amigo.

Outro aspecto é que as personagens das crônicas não têm descrição psicológica profunda, pois, são caracterizadas por uma ou duas características centrais, suficientes para compor traços genéricos, com os quais uma pessoa comum pode se identificar. Em geral, as personagens não têm nomes: é a moça, o menino, a velha, o senador, a mulher, a dona de casa. Ou têm nomes comuns: dona Nena, seu Chiquinho, etc...

Análise da linguagem

1) Intenção e linguagem
O narrador-personagem da crônica (ou remetente da carta ao vizinho) reconhece que faz barulho e por isto pede desculpas. Veja, assim, as palavras e afirmações que usou para construir essa ideia: "consternado", "desolado", "lhe dou inteira razão", "O regulamento do prédio é explícito", "Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso", "Peço desculpas", "Prometo silêncio".

No entanto, através de ironias, o narrador reconhece sua falta, mas explicita que não concorda com a situação, uma vez que a aborda também de outro ângulo, problematizando as relações entre as pessoas e não simplesmente aceitando a situação como algo imutável. E faz isso, especialmente, quando:

  ironiza a estruturas dos prédios em que as pessoas ficam empilhadas, perdendo o contato humano;

  refere-se a todos os vizinhos, incluindo ele próprio, pelo número do apartamento e não pelo nome;

  critica o isolamento e a distância entre as pessoas cujas vidas estão limitadas pelas normas que cerceiam o convívio humano;

  sonha com outra relação mais humana e fraterna, entre as pessoas.

2) Ironia e humor

a) Veja como o narrador usa uma fina ironia quando fala de si mesmo e dos motivos das reclamações do vizinho:

"Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua." Verifique ainda como o uso do elemento "apenas", usado duas vezes intensifica a sua exclusão em relação aos demais moradores do prédio.

b) O excesso de referência a números acaba por criar um efeito de humor e crítica social:

"Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h 45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h 15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305."

Enfim, o efeito de humor tem a ver com:

  o contraste entre uma situação e outra: os que mantêm silêncio e pessoas, como o narrador, que não o fazem;

  o inesperado: o texto parece se encaminhar para um sentido e bruscamente aponta para outro.

3)Uso de verbo

Quando o narrador quer sonhar com uma outra situação em relação, não só à sua vizinhança, mas também à vida na cidade grande, veja que ele constrói essa ideia usando verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo, o que indica possibilidade/desejo/hipótese:

"Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: 'Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou'. E o outro respondesse: 'Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela'.

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

4)Uso dos artigos

Releia os trechos:

a) "Quem fala aqui é o homem do 1003.".

Foi usado o artigo definido ( o ), quando o narrador refere-se a si mesmo, particularizando, dessa forma, um indivíduo, entre outros.

b) "Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse (...). E o outro respondesse (...)"

artigo indefinido ("um homem"), quando foi introduzido um elemento ainda não citado no texto, generalizando-o. Há artigo definido ("o outro"), quando novamente se tem um indivíduo já citado, particularizando-o.

Veja que essas escolhas linguísticas vão constituindo a ligação/coesão entre as partes do texto, de tal maneira que, mais do que saber o nome das classes da gramática - substantivos, adjetivos, artigos, advérbios, verbo, conjunção, pronome, preposição, numeral - é importante saber suas articulações na construção dos sentidos de um texto.

Características das crônicas

A crônica é um texto narrativo que:

 É, em geral, curto;

Trata de problemas do cotidiano; assuntos comuns, do dia a dia;

Traz as pessoas comuns como personagens, sem nome ou com nomes genéricos. As personagens não têm aprofundamento psicológico; são apresentadas em traços rápidos;

 É organizado em torno de um único núcleo, um único problema;

  Tem como objetivo envolver, emocionar o leitor.

Observe agora 2 crônicas:

Dois mais dois

Luis Fernando Verissimo
O Rodrigo não entendia por que precisava aprender matemáti­ca, já que a sua minica1culadora faria todas as contas por ele, pelo resto da vida, e então a professora resolveu contar uma história. Contou a história do Super Computador.
Um dia, disse a professora, todos os computadores do mundo serão unificados num único sistema, e o centro do sistema será em alguma cidade do Japão. Todas as casas do mundo, todos os lu­gares do mundo, terão terminais do Super Computador. Toda a informação do mundo estará nos circuitos do Super Computador. As pessoas usarão o Super Computador para compras, para reca­dos, para reservas de avião, para consultas sentimentais. Para tudo.
Ninguém mais precisará de relógios individuais, de livros ou de calculadoras portáteis. Não precisará mais nem estudar. Tudo que alguém quiser saber sobre qualquer coisa estará na memória do Super Computador, ao alcance de qualquer um. Em milésimos de segundo a resposta à consulta estará na tela mais próxima. E haverá bilhões de telas espalhadas por onde o homem estiver, desde lavatórios públicos até estações espaciais. Bastará ao homem apertar um botão para ter a informação que quiser.
Um dia um garoto perguntará ao pai: - Pai, quanto é dois mais dois?
- Não pergunte a mim - dirá o pai -, pergunte a Ele.
E o garoto digitará os botões apropriados e num milésimo de
segundo a resposta aparecerá na tela. E então o garoto dirá: - Como é que sei que essa resposta é certa?
- Porque Ele disse que é certa - responderá o pai.
- E se Ele estiver errado?
- Ele nunca erra.
- Mas se estiver?
- Sempre podemos contar nos dedos.
- O quê?
- Contar nos dedos, como faziam os antigos. Levante dois
dedos. Agora mais dois. Viu? Um, dois, três, quatro. O Computador está certo.
- Mas, pai, e 362 vezes 17? Não dá para contar nos dedos. A não ser reunindo muita gente e usando os dedos das mãos e dos pés. Como saber se a resposta d'Ele está certa?
Aí o pai suspirou e disse: - Jamais saberemos ...
O Rodrigo gostou da história, mas disse que, quando ninguém mais soubesse matemática e não pudesse pôr o Computador à prova, então não faria diferença se o Computador estava certo ou não, já que a sua resposta seria a única disponível e, portanto, a certa, mesmo que estivesse errada, e ...
Aí foi a vez de a professora suspirar.

O Lixo

Luis Fernando Verissímo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo.
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou um pouco resfriada.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?

Mestres da Literatura: Carlos Drummond de Andrade

 (Texto de minha Autoria)

Carlos Drummond de Andrade é um grande escritor mineiro conhecido mundialmente. Nasceu em Itabira do Mato Dentro ( Minas Gerais) Dia 31 de outubro de 1902.Era de uma família de fazendeiros que estava próxima a falência.Saiu de sua cidade natal para estudar em Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo mudou-se novamente,só que agora para o Rio de Janeiro,porém foi expulso do colégio,acusado de “insubordinação mental” . Logo depois de todos estes  acontecimentos  Drummond voltou a Belo Horizonte e começou sua carreira como escritor.Começou como colaborador do Diário de minas  onde apoiava o movimento modernista mineiro.

    Pela insistência da família para que ele obtivesse um diploma,ele se formou em farmácia na cidade de Ouro Preto  em 1925. Lançou juntamente com outros escritores  A Revista,que apesar de ter sido publicada em poucas edições  foi uma forma importante de divulgação do movimento modernista em Minas.Drummond começou a trabalhar como servidor publico,entretanto em 1934 voltou para o Rio de Janeiro  onde trabalhou como chefe de gabinete de Gustavo Capanema , e depois ingressou no cargo de ministro da educação, onde permaneceu até 1945.Pouco depois começou a trabalhar no Serviço  do Patrimônio Histórico e Artístico  Nacional,se aposentando em 1962.A partir de 1954 ele começou a escrever crônicas para o Correio da Manhã e depois  desde de o inicio de 1969 também para o Jornal do Brasil.

      Mas os temas modernos não foram abordados em seus primeiro livros:  Alguma Poesia (1930) e Brejo das almas  (1934),onde os poemas e piadas apresentavam opiniões contrárias a essa. Ele era torturado pelo passado e tinha medo do futuro, e acreditava que seu presente era dilacerado por pessoas,Drummond era um homem melancólico e cético.Ele ironizava os costumes sociais,era extremamente satírico e era desencantado com tudo e com todos  se entregava a comunicação estética  e ao modo de ser ou estar.

      Parte daí seu grande rigor perto de uma obsessão. O poeta  trabalhava em seus poemas,temas sobretudo como o tempo,e sua cintilação cotidiana subjetiva.Mas nos livros  Sentimento do mundo  (1940) , José  (1942), e ainda mais em  A rosa do povo (1945), Drummond nesses livros apostou no tema de historia contemporânea,onde se solidarizou socialmente e politicamente. A sua fantástica sucessão de obras-primas,nesses livros,mostra sua enorme maturidade que sempre foi mantida.

   Muitos livros de Drummond  foram traduzidos para varias línguas como: espanhol,inglês,francês,italiano,alemão,sueco,tcheco etc. Ele foi durante muitas décadas o poeta mais importante na formação da literatura brasileira na época, por isso era publicado em vários livros de prosa.

   Drummond traduziu livros de vários escritores estrangeiros: Balzac (Les Paysans (1845) : Os camponeses), Choderlos de Laclos ( Les Liainsons dangereuses (1782): As relações perigosas),Marcel Proust (La Fugitive (1925): A fugitiva), Garcia Lorca ( Doña Rosita, La soltera o El lenguaje de lãs flores (1935): Dona Rosita ,a solteira) François Mauriac  ( Thérése  Desqueyroux (1927): Uma gota de veneno) e Moliére ( Les Fourberies de Scapin,(1677): Artimanhas de Scarpino)

Poemas do livro “A Rosa do Povo

  ÁPORO

Um inseto cava

cava sem alarme

perfurando a terra

sem achar  escape.

Que fazer,exausto,

em país bloqueado,

enlace de noite

raiz e mineiro?

Eis que o labirinto

(oh,razão mistério)

presto se desata:

em verde, sozinha,

antieuclidiana

uma orquídea forma-se

 

ONTEM

Até hoje perplexo

ante o que murchou

e não eram pétalas.

De como este banco

não reteve forma,

cor ou lembrança.

Nem está árvore

balança o galho

que balançava.

Tudo foi breve

e definitivo .

Eis está gravado

não no ar,em mim,

que por minha vez

escrevo,dissipo.

    Enfim,Drummond era uma pessoa que obtinha e até hoje tem  a grande admiração do povo brasileiro,tanto pela sua obra quanto por seu carisma. Infelizmente no dia 17 de agosto de 1987 poucos dias após a morte de sua filha única Maria Julieta Drummond de Andrade, Carlos Drummond de Andrade morreu aos 85 anos no Rio de Janeiro. O Brasil com certeza perdeu um grande poeta e cronista.      

A Epopéia dos Lusíadas

 

Os Lusíadas é uma obra poética do escritor Luís Vaz de Camões, considerada a epopeia portuguesa por excelência. Provavelmente concluída em 1556, foi publicada pela primeira vez em 1572 no período literário do classicismo, três anos após o regresso do autor do Oriente.

A obra é composta de dez cantos, 1102 estrofes que são oitavas decassílabas, sujeitas ao esquema rímico fixo AB AB AB CC – oitava rima camoniana. A acção central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, à volta da qual se vão descrevendo outros episódios da história de Portugal, glorificando o povo português.

Estrutura

As armas e os barões assinalados A
Que, da ocidental praia lusitana, B
Por mares nunca de antes navegados A
Passaram ainda além da Taprobana, B
Em perigos e guerras esforçados, A
Mais do que prometia a força humana, B
E entre gente remota edificaram C
Novo reino, que tanto sublimaram.C

Os Lusíadas, Canto I, estrofe 1

A estrutura externa refere-se à análise formal do poema: número de estrofes, número de versos por estrofe, número de sílabas métricas, tipos de rimas, ritmo, figuras de estilo, etc. Assim:

- Os Lusíadas é constituído por dez partes, chamadas de cantos na lírica;

- Cada canto possui um número variável de estrofes (em média, 110);

- As estâncias são oitavas, tendo, portanto oito versos; a rima é cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB AB AB CC, ver na citação ao lado);

- Cada verso é constituído por dez sílabas métricas (decassilábico), na sua maioria heróicas (acentuadas nas sextas e décimas sílabas).

Sendo Os Lusíadas um texto renascentista, não poderia deixar de seguir a estética grega que dava particular importância ao número de ouro. Assim, o clímax da narrativa, a chegada à Índia, foi colocada no ponto que divide a obra na proporção áurea (início do Canto VII).

A estrutura interna relaciona-se com o conteúdo do texto. Esta obra mostra ser uma epopeia clássica ao dividir-se em quatro partes:

  • Proposição - introdução, apresentação do assunto e dos heróis (estrofes 1 a 3 do Canto I);
  • Invocação - o poeta invoca as ninfas do Tejo e pede-lhes a inspiração para escrever (estrofes 4 e 5 do Canto I);
  • Dedicatória - o poeta dedica a obra ao rei D. Sebastião (estrofes 6 a 18 do Canto I);
  • Narração - a narrativa da viagem, in medias res, partindo do meio da acção para voltar atrás no tempo e explicar o que aconteceu até ao momento na viagem de Vasco de Gama e na história de Portugal, e depois prosseguir na linha temporal.

Por fim, há um epílogo a concluir a obra (estrofes 145 a 156 do Canto X).

Os planos temáticos da obra são:

  • Plano da Viagem - onde se trata da viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia de Vasco da Gama e dos seus marinheiros;
  • Plano da História de Portugal - são relatados episódios da história dos portugueses;
  • Plano do Poeta - Camões refere-se a si mesmo enquanto poeta admirador do povo e dos heróis portugueses;
  • Plano da Mitologia - são descritas as influências e as intervenções dos deuses da mitologia greco-romana na ação dos heróis.

Ao longo da narração deparam-se-nos vários tipos de episódios: bélicos, mitológicos, históricos, simbólicos, líricos e naturalistas.

Parecer do Santo Ofício

O poema épico mais genuíno é o canto da construção duma nação com a ajuda de Deus ou dos deuses. Os Lusíadas, como já a Eneida, é uma epopéia moderna, em que o maravilhoso não passa dum artifício necessário, mas só literário. A fé única no Deus cristão é defendida por toda a obra.

Não se pode pensar em heresia porque não fazia sentido, em tempos de Contra-Reforma, acreditar nos deuses do panteão greco-romano, e a prova é a não censura dos inquisidores aos «Deoses dos Gentios». No episódio da Máquina do Mundo (estrofe 82 do Canto X), é o próprio personagem da deusa Tétis que afirma: «eu, Saturno e Jano, Júpiter, Juno, fomos fabulosos, Fingidos de mortal e cego engano. Só pera fazer versos deleitosos Servimos».

Apesar de terem cortado excertos da obra nas suas primeiras edições,  o Parecer do censor do Santo Ofício na edição de 1572 declara que percebeu que este recurso «não pretende mais que ornar o estilo Poético». Por isso, continua, «não tivemos por inconveniente ir esta fábula dos Deoses na obra», mas não resiste a acrescentar «ficando sempre salva a verdade de nossa santa fé, que todos os Deoses dos Gentios são Demônios».

Todavia, a presença destes deuses ocupa um lugar de muito relevo no poema. São as suas intrigas que ligam os episódios dispersos da epopéia e as suas intervenções deus ex machina que emprestam lógica a acontecimentos inesperados da viagem, relatados na narrativa.Tema

O herói

Como o título indica, o herói desta epopéia é coletivo, os Lusíadas, ou os filhos de Luso, os portugueses. Nas estrofes iniciais do discurso de Júpiter no concílio dos deuses olímpicos, que abre a parte narrativa, surge a orientação laudatória do autor.

“Eternos moradores do luzente
Estelífero pólo, e claro assento,
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento,
Deveis de ter sabido claramente,
Como é dos fados grandes certo intento,
Que por ela se esqueçam os humanos
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.”

— Início do discurso de Júpiter no concílio dos deuses. Canto I, estrofe 24.

O rei dos deuses afirma que desde Viriato e Sertório, o destino (fado) dos valentes portugueses (forte gente de Luso) é realizar feitos tão gloriosos que façam esquecer os dos impérios anteriores (Assírios, Persas, Gregos e Romanos).

O desenrolar da sua história atesta-o, pois além de ser marcada pelas sucessivas e vitoriosas lutas contra mouros e castelhanos, mostra como um país tão pequeno descobre novos mundos e impõe a sua lei no concerto das nações.

No final do poema surge o episódio da Ilha dos Amores, recompensa ficcional da gloriosa caminhada portuguesa através dos tempos. E é confirmado o receio de Baco de as suas façanhas de conquista serem ultrapassadas pelas dos portugueses.

Camões dedicou sua obra-prima ao rei D. Sebastião de Portugal. Os feitos inéditos dos descobrimentos portugueses e a chegada ao «novo reino que tanto sublimaram» no Oriente, foram sem dúvida os estímulos determinantes para a tarefa, desde há muito ambicionada, de redigir o épico português.

Havia um ambiente de orgulho e ousadia no povo português. Navegadores e capitães eram heróis recentes da pequena nação, homens capazes de extraordinárias façanhas, como o «Castro forte» (o vice-rei D. João de Castro), falecido poucos anos antes de o poeta aportar na Índia.

E principalmente Vasco da Gama, a quem se devia o descobrimento da rota para o oriente numa viagem difícil e com poucas probabilidades de êxito, e que vencera inúmeras batalhas contra reinos muçulmanos em terras hostis aos cristãos. Esta viagem épica foi por isso usada como história central da obra, à volta da qual vão sendo contados episódios da história de Portugal.

A cruzada contra o mouro

O poema pode ser lido numa perspectiva que já era antiga, mas a que factos recentes haviam dado acrescida atualidade, a da cruzada contra o mouro. As lutas no Oriente seriam a continuação das que já se haviam travado em Portugal e no Nor te de África, dominando ou abatendo o poder do Islão.

O próprio "movimento" dos descobrimentos surgiu numa lógica de combate ao poderoso Império Otomano que ameaçava a Europa cristã, incapaz de vencer o inimigo em guerra aberta. Os objetivos passavam por fazer uma concorrência comercial aos muçulmanos, ao mesmo tempo ganhando proveitos e debilitando a economia dos rivais. Mas também se ambicionava encontrar aliados dos europeus nas novas terras, que poderiam ser eles mesmos cristãos, ou passíveis de conversão.

Em 1571, a aparente invencibilidade do sultanato turco tinha sido desmentida na batalha de Lepanto. Sentia-se que os otomanos afinal não detinham a supremacia no Mediterrâneo. E o comandante das forças cristãs fora D. João de Áustria, filho bastardo do imperador Carlos V, o avô de D. Sebastião. Foi neste contexto de exaltação que o poeta terá contribuído para incitar o jovem rei português a partir em conquista para a África, com os desastrosos efeitos que daí se seguiram.

Narradores e os seus discursos

Cada um dos tipos de discurso neste poema evidencia particularidades estilísticas concretas. Dependendo do assunto que tratam, o estilo pode ser heróico e exaltado, empolgante, lamentoso e melancólico, humorístico, admirador.

Os Lusíadas é uma obra narrativa, mas os seus narradores são quase sempre oradores que fazem discursos grandiloquentes: o narrador principal, Camões, que abre em grande estilo e retoma a palavra em várias ocasiões; Vasco da Gama, reconhecido como «facundo capitão» (eloquente); Júpiter, que também toma a palavra em diversas ocasiões; Paulo da Gama (Canto VIII, estrofes 2 a 42); o Velho do Restelo (Canto IV, estrofes 95 a 104); Tétis; a Sirena que profetiza ao som de música (Canto X, estrofes 10 a 74), etc.

E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.

— Invocação às Tágides. Canto I, estrofes 4 e 5.

   Na Invocação, quando o poeta pede às Tágides «um som alto e sublimado, Um estilo grandíloco e corrente», por oposição ao estilo da poesia lírica, de «verso humilde», está certamente a pensar nesse tom empolgante da oratória. Um tom assemelhado à «tuba canora e belicosa» (trompeta de guerra) e não à «agreste avena ou frauta ruda» (flauta do pastor), que seja digno dos «feitos da famosa Gente vossa» (célebre gente do Tejo, os portugueses).

   De assinalar excelentes descrições, como as dos palácios de Neptuno e do Samorim de Calecute, a do locus amoenus (lugar aprazível, ameno) da Ilha dos Amores (Canto IX), a do jantar no palácio de Tétis (Canto X) e a do traje do Gama (final do Canto II), entre outras.

   Por vezes, essas descrições são feitas ao modo de uma passagem de slides: as coisas descritas estão ali e há alguém que as mostra. Por exemplo, o começo geográfico do discurso de Vasco da Gama ao rei de Melinde (Canto III, estrofes 6 a 20), certas esculturas dos palácios de Neptuno e do Samorim, o discurso de Paulo da Gama ao Catual (Canto VIII, estrofes 26 a 44), A Máquina do Mundo (Canto X, estrofes 77 a 144).

  Exemplos de descrições dinâmicas são a da «batalha» da ilha de Moçambique (Canto I, estrofes 84 a 92), as das batalhas de Ourique (Canto III, estrofes 42 a 54) e Aljubarrota (Canto IV, estrofes 26 a 44), a da tempestade (Canto VI, estrofes 1 a 42). Camões é mestre nessas descrições, marcadas pelos verbos de movimento, pela abundância de sensações visuais e acústicas e por expressivas aliterações.

   Há n’Os Lusíadas vários momentos líricos. Os textos em que se concretizam são no geral narrativo-descritivos. É o caso da parte inicial do episódio da Linda Inês (Canto III, estrofes 120 a 135), da parte final do episódio do Adamastor (Canto V, estrofes 37 a 60), do encontro na Ilha dos Amores (Canto IX). Em todos esses casos o estilo é muito assemelhado à écloga.

  São muitas as ocasiões em que o poeta assume um tom de lamento: a última estrofe do Canto I, parte do discurso do Velho do Restelo (Canto IV, estrofes 94 a 104), início e final do Canto VII e partes da Profecia da sereia, fazem lembrar outros lamentos da lírica.

  A fé e os apelos a Deus têm uma presença forte na obra. Já Vergílio chamava ao seu herói «pio Eneias». Por várias vezes, em momentos difíceis, Vasco da Gama irrompe em oração: em Mombaça (Canto II), na aparição do Adamastor, no meio do terror da tempestade, etc. As invocações do poeta às Tágides, a Calíope (Canto III, estrofes 1 e 2 e C anto X, estrofe 8), às ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII), em termos tipológicos, são também orações.

Dica Literária: Percy Jackson e os Olimpianos

Percy Jackson e os Olimpianos é uma série de cinco livros—e mais dois complementares—juvenis de aventura escritos pelo norte-americano Rick Riordan, retratando a mitologia grega no século XXI. O personagem principal é Percy Jackson, que descobre ser um meio-sangue, filho de Poseidon, deus do mar, com uma humana. Além dele, outros personagens notórios são Annabeth Chase, filha de Atena, Grover Underwood, um sátiro adolescente, Thalia Grace, filha de Zeus, e Luke Castellan, filho de Hermes e vilão da série. Todas as ilustrações oficiais da série foram feitas por John Rocco.

 Juntos, os cinco livros da saga já venderam mais de nove milhões de exemplares pelo mundo, permanecendo por 155 semanas na lista dos mais vendidos do jornal norte-americano The New York Times.Em 12 de Fevereiro de 2010, foi lançada a adaptação do primeiro livro para os cinemas, Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief. A série deu origem a outra intitulada The Heroes of Olympus, que tem o mesmo tema, mesmo público alvo e alguns dos personagens de Percy Jackson & the Olympians.

Enredo

O Ladrão de Raios

 

Percy Jackson é um garoto de doze anos diagnosticado com dislexia e transtorno do déficit de atenção, que é constantemente expulso das escolas que frequenta, não por culpa própria. Na excursão para o Museu Metropolitano de Arte, ele manipula a água e faz uma cleptomaníaca ruiva e sardenta chamada Nancy Bobofit que estava o irritando e implicando com o seu melhor amigo, Grover, ficar encharcada. A professora de iniciação à Álgebra, conhecida como Sra. Dodds, o leva para dentro do museu enquanto todos estão lá fora. A professora se transforma em uma das fúrias de Hades também conhecidas como Benevolentes e tenta matá-lo. Para sua surpresa, o seu professor paraplégico Sr. Brunner o ajuda jogando uma caneta que se transforma em espada, Contracorrente, para Percy, que consegue matar a professora.

Depois de sonhos com uma águia na praia brigando com um cavalo, sua mãe lhe manda para o Acampamento Meio-Sangue, um acampamento para outras crianças semideusas. Ao chegar no acampamento, um Minotauro os ataca e captura a mãe de Percy, a levando para o reino de Hades. Não muito tempo depois de sua chegada, Poseidon reclama Perseu Jackson como seu filho em um jogo de capture a bandeira, logo que se regenerou na água de um ataque dos filhos de Ares e de um cão infernal. Após isso, Percy é tido como culpado pelo sumiço do Raio Mestre de Zeus por ser filho de Poseidon, com quem Zeus tem uma rivalidade. Ele tem dez dias, ou de 11 à 21 de junho, dia do solstício de verão, para encontrar o Raio Mestre e levá-lo de volta para o Monte Olimpo, pois se o Raio Mestre não for levado até o inicio do solstício de verão, Zeus ira declarar guerra a Poseidon.

Percy parte em uma missão com seus amigos Annabeth Chase (filha de Atena) e Grover Underwood, na qual ele é perseguido por diversos monstros. No início ele sugere que foi Hades quem roubou o Raio, mas depois descobre que não foi ele, mas sim Ares que por sinal roubou também o elmo de Hades, mas quem o influenciou foi Luke, filho de Hermes, que estava sob o comando de Cronos, o Titã. Após recuperar o Raio Mestre, ele vai ao Olimpo. Lá ele encontra seu pai com o qual tem uma breve conversa. Ele se surpreende com a fisionomia dos deuses. Ele entrega o Raio à Zeus e tudo fica calmo. Ao chegar ao acampamento, Luke o convida para caçar. Na floresta Luke quase mata Percy, o atingindo com um escorpião das profundezas do Tártaro, extremamente venenoso. Luke foge do acampamento.

Percy quando acorda explica tudo para Quíron. Percy quer ir atrás de Luke, mas é detido por Annabeth e Quíron que dizem que ele precisa de treinamento para enfrentar Luke e que quando estivesse pronto ele poderia ir. Annabeth decide tentar novamente morar com o pai. Percy decide que vai para casa e no próximo verão retornará para receber treinamento e ir atrás de Luke.

O Mar de Monstros

O Mar de Monstros é o segundo livro da série. Foi lançado nos Estados Unidos em 3 de Maio de 2006 e no Brasil em 16 de Abril de 2009.

Percy tem um sonho em que Grover está sendo perseguido por um monstro e pedindo socorro, e quando Percy chega ao Acampamento Meio-Sangue descobre que a árvore de Thalia—filha de Zeus, que foi morta em batalha, protegendo seus amigos—foi envenenada. Percy, Annabeth e Tyson, meio-irmão de Percy, partem para pegar o Velocino de Ouro que está com Polifemo, o ciclope. Percy tem outro sonho com Grover e descobre que ele foi capturado por Polifemo, e está em uma ilha no Mar de Monstros, enquanto estava à procura do deus Pã. Então Percy e Annabeth decidem pedir uma missão para salvar Grover e a árvore de Thalia, indo em direção ao Mar de Monstros, mas Quíron foi demitido. O sr. D decide chamar um velho amigo para ocupar esse lugar: Tântalo. Então o mesmo decide que quem irá nesta missão será Clarisse, filha de Ares, o deus da guerra. Ela atrapalha tudo no ínicio. Annabeth, Tyson e Percy fogem do acampamento depois que Hermes os ajuda com presentes para a missão. Eles acabam indo a bordo do cruzeiro Princesa Andrômeda, que mais tarde descobrem ser o navio em que Luke está treinando monstros. Dentro do navio eles encontram um caixão de três metros, o qual contém pedaços de Cronos, o Senhor Titã. Eles conseguem fugir do navio e partem para uma ilha na qual eles encontram mais um desafio. Lá, eles encontram Clarisse e partem com ela para o mar de monstros. Quando tentam atravessar a passagem para o mar de monstros, o navio é destruido e eles se perdem de Clarisse e Tyson (Tyson foi tentar ajudar com o motor do navio e acabou sendo perdido). Encontram mais desafios pela frente, mas logo chegam a Grover, que agora está com Clarisse. Eles enfrentam Polifemo e finalmente conseguem o Velocino de Ouro. Chegando ao acampamento, Clarisse pendura o Velocino na árvore. Alguns dias depois do ocorrido, Thalia, a filha de Zeus, é "renascida" da árvore. Assim todos confundem-se novamente, sobre a quem se refere a profecia. Percy ou Thalia.

A Maldição do Titã

A Maldição do Titã é o terceiro livro da série. Foi lançado nos Estados Unidos em 1º de Abril de 2007 e no Brasil em 15 de Outubro de 2009.

Percy, Grover, Annabeth e Thalia vão para uma escola recrutar dois poderosos semideuses, Nico e Bianca di Angelo). Nesta missão, eles são atacados por um Manticora. As Caçadoras de Ártemis aparecem e atacam o monstro, mas Annabeth cai de um alto penhasco com ele. Mais tarde eles descobrem que Annabeth e Ártemis foram raptadas e são designados cinco heróis para uma missão: três Caçadoras e dois campistas, e Percy não estava incluído neste grupo, mas uma das Caçadoras é envenenada por uma camiseta com sangue de centauro e não pode ir, então Percy, acompanhado por Grover, Thalia e duas Caçadoras de Ártemis, Zoë Nightshade (também chamada de Zoe Doce-Amarga) e Bianca, agora uma Caçadora, vão para a missão resgatá-las. Bianca di Angelo se sacrifica para salvar os outros no ferro-velho de Hefesto. No final, o pai de Annabeth, o prof. Chase, aparece para ajudar; Percy salva Ártemis, que estava sustentando o céu, enquanto a deusa de Ártemis consegue distrair o Titã Atlas, assim o devolvendo ao castigo de sustentar o céu. Contudo, Zoë, que é filha de Atlas, é morta por ele com um ataque e com o veneno do dragão Ladón, com isso Ártemis a transforma em uma constelação. A deusa tem que escolher outra pessoa para substituir Zoë, e Percy fica com medo que seja Annabeth, pois Afrodite aparece no meio do caminho e o faz perceber o quanto a ama. No entanto Ártemis chama Thalia, que decide-se juntar-se as caçadoras para nunca fazer dezesseis anos e não completar a profecia. Bessie, o ofiotauro, é levado para o Olimpo, onde os deuses decidem matá-lo. Percy os convence a deixá-lo vivo, e com a ajuda de Hefesto, Poseidon constrói um aquário para ele na sala do trono. Quando eles voltam ao acampamento, Nico, indignado com a morte de sua irmã, deixa o acampamento e revela-se um filho de Hades. E Percy ganha um novo inimigo.

A Batalha do Labirinto

A Batalha do Labirinto é o quarto livro da série. Foi lançado nos Estados Unidos em 8 de Maio de 2008 e no Brasil em 12 de Fevereiro de 2010.

No começo do livro, Percy vai à uma aula de orientação na sua nova escola, Goode. Lá, ele encontra Rachel Elizabeth Dare, uma mortal que salvara sua vida no inverno anterior, e é atacado por líderes de torcida demoníacas. Percy foge da escola e encontra Annabeth. Juntos, eles retornam para o Acampamento Meio-Sangue. Percy percebe que o Acampamento está estranho e Annabeth conta a ele sobre "O Labirinto", parte do palácio do Rei Minos em Creta que, de acordo com a mitologia grega, foi projetado por Dédalo. Segundo ela, Luke estava planejando usar o Labirinto para invadir o Acampamento, liderando seu exército direto para o coração da resistência dos Meio-Sangues. Ela também diz que Clarisse já havia feito investigações no subterrâneo. Enquanto isso, Percy conhece o novo instrutor de esgrima, Quintus, que possui um cão infernal gigante de estimação. Durante um jogo projetado pelo instrutor, Annabeth e Percy acabam achando a entrada para o Labirinto. Então, Quíron convoca uma missão para tentar encontrar Dédalo antes de Luke, pois o inventor era o único que possuía o fio de Ariadne, o objeto capaz de tornar a navegação possível no Labirinto.

Então, Annabeth, Percy, Grover e Tyson partem pelo Labirinto à procura do Laboratório de Dédalo. Porém, eles se deparam com muitos obstáculos, como uma esfinge e Campe, salvam Briareu, um centimano, e não conseguem encontrar uma maneira de entender e andar pelo Labirinto sem se perderem. Todavia, quando eles são encurralados por Jano, o deus da dúvida, Hera surge e diz à Annabeth que Percy sabia como achar o caminho, apesar de não perceber. A deusa também aconselha-os a visitar Hefesto, que poderia ajudá-los. Depois disso, eles encontram Nico di Angelo em um rancho, e Percy ajuda o garoto a convocar Bianca. O empregado do rancho agradece à Percy por tê-lo libertado de seu chefe e dá-lhes uma aranha de metal que os leva a Hefesto.

Percy, Annabeth, Tyson e Grover encontram o deus dos metais, que diz que só contará a eles sobre Dédalo em troca de um favor: eles teriam que investigar e descobrir quem estava usando suas forjas escondido. Porém, quando eles chegam ao vulcão, que é o lugar das forjas, Grover descobre um túnel que ele acha que levará até Pan. O sátiro e Tyson então, seguem por esse túnel e Percy e Annabeth continuam até as forjas, onde eles descobrem que telequines estavam forjando uma nova arma para Cronos. Percy diz à Annabeth para ela ir avisar Hefesto enquanto ele distraía os telequines. Eles se beijam antes de Annabeth partir. Percy, sem querer, explode o vulcão, onde o terrível monstro Tífon está adormecido.

Quando ele acorda, está na ilha de Calypso. Ele passa um tempo com a garota na ilha, até que Hefesto vem visitá-lo e diz que ele precisa escolher entre ficar na ilha para sempre e voltar para seus amigos. O deus também dá uma dica de como navegar no Labirinto. Depois que Hefesto vai embora, Calypso confessa à Percy que está apaixonada por ele, mas ele diz que precisa voltar. Ela dá a ele uma flor, o enlace lunar, e ele parte.

Quando Percy retorna ao Acampamento, ele percebe que todos achavam que estava morto. Não havia notícias de Grover e Tyson, o professor de esgrima Quintus estava desaparecido e ele e Annabeth resolvem continuar a missão sozinhos. Então ele pede ajuda à sua amiga mortal, Rachel. Ele havia percebido que ela podia ver através da Névoa, por isso conseguiria ver também o caminho no Labirinto logo então eles entram no labirinto e deparam com Anteu, filho de Poseidon com Gaia, Percy mata ele e salva Ethan Nakaruma que logo depois se mostra um traidor. Com ajuda de Rachel, Percy e Annabeth encontram o laboratório de Dédalo, e descobrem que o famoso arquiteto é o seu instrutor desaparecido do Acampamento. Dédalo confessa que já havia dado o fio de Ariadne à Luke. Então, Percy, Annabeth, Rachel e Nico fogem do laboratório com as asas de Dédalo. Mas eles voltam ao Labirinto logo depois, aonde encontram uma passagem para o reino dos Titãs. Percy vê Cronos renascer dentro do corpo de Luke, Rachel se revela acertando o olho do poderoso titã com uma escova de plástico azul e Nico salva a todos. Eles fogem novamente e reencontram Grover e Tyson. Juntos, eles acham o Deus Pan, que morre em seguida, deixando-os uma mensagem. Eles retornam ao Acampamento Meio-Sangue, deixando Rachel em Nova York. Luke usa o fio de Ariadne para liderar um ataque ao acampamento. Grover vem ao salvamento e provoca um pânico para afastar o inimigo. Depois da batalha, Dédalo sacrifica-se para fechar o Labirinto, que é ligado à sua vida. Antes de morrer, porém, ele presenteia Annabeth com um laptop contendo alguns de seus projetos.

O livro termina no dia do aniversário de Percy. O namorado da mãe dele, sr. Blofis, Tyson e a mãe dele estavam lá, e Poseidon também faz-lhe uma visita, dando-lhe um dólar de areia de presente. Percy planta o enlace lunar, presente de Calypso, na sua janela e recebe a visita de Nico, que diz que sabe como Percy pode derrotar Cronos.

O Último Olimpiano

O Último Olimpiano, o quinto livro da série Percy Jackson e os Olimpianos, foi lançado nos Estados Unidos em 5 de Maio de 2009 e no Brasil em 10 de agosto de 2010.

 

Um meio-sangue, dos deuses antigos filho,

Chegará aos dezesseis apesar de empecilhos
Num sono sem fim o mundo estará
E a alma do herói, a lâmina maldita ceifará
Uma escolha seus dias vai encerrar
O Olimpo preservar ou arrasar.

 

 — O Oráculo, O Último Olimpiano.

Após afundar o Princesa Andrômeda, numa batalha que morre Charles Berckendorf, filho de Hefesto, e desmaiar, Percy Jackson acorda no reino de Poseidon sob ataque do titã Oceano) volta para o Acampamento Meio-Sangue, de onde sai em uma viagem para investigar o passado de Luke acompanhado por Nico di Angelo, que culmina no mergulho de Percy no rio Estige e descobre que Luke também o fez antes de ser possuído por Cronos. Depois disso, Percy começa a organizar a defesa de Nova York uma vez que os Olimpianos estão lutando contra o titã, Tifão, o Olimpo esta parcamente protegido, então começam uma série de batalhas que esgotam os defensores, que apesar de auxiliados por quase todas as estátuas da cidade não conseguem resistir a tantas baixas, porém Quíron consegue reforços e os campistas do chalé de Ares se envolvem na luta, mas mesmo assim os defensores acabam encurralados no Empire State enquanto os deuses acabam por recuar em sua luta contra Tifão até as cercanias de Manhattam, porém Hades entra na luta do lado de fora do edifício (que está protegido para impedir a chegada de reforços para a já falida resistência), logo porém Cronos e Ethan Nakamura se deparam com a resistência final: com o Olimpo em ruínas, só restava defender os Tronos de poder, no entanto a Grande Profecia não se aplica totalmente para Percy mas em parte para Luke também. Luke, possuído por Cronos, eventualmente fica chocado e volta para seu estado normal quando Annabeth lembra ele da promessa que ele fez a ela muito tempo atrás, de que eles seriam uma família. A 'lâmina maldita' da profecia era a faca que Luke deu para Annabeth, pois Luke não cumpriu a promessa de protegê-la. Poseidon entra na luta contra Tifon e os Olimpianos agora reforçados o derrotam. Luke se mata atingindo seu ponto fraco com a lâmina de Annabeth dada por Percy. A grande profecia depende da decisão de Percy de entregar a faca a Luke ao invés de lutar contra ele. Os deuses privilegiam Percy com um desejo. Percy faz os deuses prometerem pelo rio Estige que eles vão reconhecer todos os seus filhos quando fizerem treze anos. Ele também pede para construírem chalés para os deuses menores, como Hécate e Morfeu e para os filhos de Hades no Acampamento Meio-Sangue. Ele prefere fazer este desejo a ganhar imortalidade. Tyson torna-se General do exército de Ciclopes por desejo de Poseidon, e a arma que ele pede é um novo bastão (de beisebol). Grover recebe um lugar no Conselho de Anciãos de Casco Fendido e se torna o novo Senhor da Natureza nomeado por Dioniso e acaba desmaiando de surpresa. Annabeth começa a reconstruir o Olimpo como a nova arquiteta oficial dos deuses a pedido de sua mãe Atena e Rachel Dare se torna o novo oráculo. Percy e Annabeth se tornam um casal e depois do seu segundo beijo.

Outros livros

Os Arquivos do Semideus e Semideuses e Monstros

Os Arquivos do Semideus, é um livro de curiosidades da série Percy Jackson e os Olimpianos. Traz três contos inéditos, entrevistas com os campistas e imagens.Foi lançado nos Estados Unidos em 2009 e no Brasil em 10 de agosto de 2010.

Semideuses e Monstros é um outro livro de Rick Riordan e foi lançado em 10 de fevereiro de 2009. Com uma introdução de Riordan, que apresenta ensaios escritos por vários autores jovens e adultos que exploram, discutem, e fornecem uma visão mais aprofundada da série Percy Jackson. Em 196 páginas, contém também informações sobre os locais e personagens da série, bem como um glossário de mitologia grega.

Desenvolvimento

Rick Riordan começou a escrever a série para seu filho que foi diagnosticado com TDAH e dislexia.

Criação

O desenvolvimento, tanto para The Lightning Thief quanto para a série como um todo, começou quando Riordan começou a fazer histórias para seu filho Haley, que havia recentemente sido diagnosticadas com TDAH e dislexia. Seu filho estava estudando mitologia grega, em segundo grau e pediu que seu pai escrevesse histórias de ninar baseada em mitos gregos. Riordan tinha sido um professor de mitologia grega no ensino médio há muitos anos e foi capaz de lembrar de histórias o suficiente para agradar o filho. Riordan logo começou a escrever mitos sobre seu filho, em seguida, pediu-lhe que fizesse novos contos, dessa vez usando os mesmos personagens dos mitos gregos e adicionando novos. Assim, Riordan criou o personagem fictício Percy Jackson e fez a história de como ele iria viajar através dos Estados Unidos para recuperar o raio de Zeus. Depois que ele terminou de contar a história para seu filho, ele então pediu que seu pai escrever um livro baseado em aventuras de Percy.

 

Todas as noites, ele [seu filho] me pedia para contar histórias na hora de dormir dos mitos gregos.

E então, eu criei Percy Jackson. Ele tem TDAH e dislexia, e aprende que postas juntas, essas duas condições indicam, sem sombra de dúvida, que ele tem sangue olimpiano.

 

 — Rick Riordian, Semideuses e Monstros

Em Junho de 1994, Riordan tinha completado seu manuscrito e começou a procurar agentes. Durante esse tempo, ele visitou várias faculdades locais à procura de bons editores até que ele finalmente encontrou um agente. Enquanto ele deixou seu manuscrito para seu agente e editor para revisar, Riordan pediu para alunos do ensino fundamental a ler e dar a sua crítica. Finalmente, ele ganhou a sua aprovação, e com a ajuda dos alunos, surgiu o nome do livro.Em Junho de 1997, Riordan assinou com a Bantam Books para preparar o livro para publicação. Em 2004, o livro foi vendido para a Miramax Books por dinheiro suficiente para Riordan deixar o emprego para se concentrar na escrita. Depois que foi lançado em 28 de julho de 2005, vendeu mais de 1,2 milhões de cópias. O livro foi lançado em várias versões, incluindo edições de bolso, capa dura e áudio. Tem sido traduzido para vários idiomas e publicados em todo o mundo.

Mestres da Literatura: Graciliano Ramos

                           

Graciliano Ramos de Oliveira (Quebrangulo, 27 de outubro de 1892 — Rio de Janeiro, 20 de março de 1953) foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX, mais conhecido por seu livro Vidas Secas (1938)

Biografia

Graciliano Ramos viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste brasileiro. Terminando o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou um tempo trabalhando como jornalista. Voltou para o Nordeste em setembro de 1915, fixando-se junto ao pai, que era comerciante em Palmeira dos Índios, Alagoas. Neste mesmo ano casou-se com Maria Augusta de Barros, que morreu em 1920, deixando-lhe quatro filhos.

Foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios em 1927, tomando posse no ano seguinte. Ficou no cargo por dois anos, renunciando a 10 de abril de 1930. Segundo uma das auto-descrições, "(...) Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas." Os relatórios da prefeitura que escreveu nesse período chamaram a atenção de Augusto Frederico Schmidt, editor carioca que o animou a publicar Caetés (1933).

Entre 1930 e 1936 viveu em Maceió, trabalhando como diretor da Imprensa Oficial, professor e diretor da Instrução Pública do estado. Em 1934 havia publicado São Bernardo, e quando se preparava para publicar o próximo livro, foi preso em decorrência do pânico insuflado por Getúlio Vargas após a Intentona Comunista de 1935. Com ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego, consegue publicar Angústia (1936), considerada por muitos críticos como sua melhor obra.

Em 1938 publicou Vidas Secas. Em seguida estabeleceu-se no Rio de Janeiro, como inspetor federal de ensino. Em 1945 ingressou no antigo Partido Comunista do Brasil - PCB (que nos anos sessenta dividiu-se em Partido Comunista Brasileiro - PCB - e Partido Comunista do Brasil - PCdoB), de orientação soviética e sob o comando de Luís Carlos Prestes; nos anos seguintes, realizaria algumas viagens a países europeus com a segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, retratadas no livro Viagem (1954). Ainda em 1945, publicou Infância, relato autobiográfico.

Adoeceu gravemente em 1952. No começo de 1953 foi internado, mas acabou falecendo em 20 de março de 1953, aos 60 anos, vítima de câncer do pulmão.

O estilo formal de escrita e a caracterização do eu em constante conflito (até mesmo violento) com o mundo, a opressão e a dor seriam marcas de sua literatura. Graciliano foi indicado ao premio Brasil de literatura

Obras

  • Caetés (1933) (ganhador do prêmio Brasil de literatura);
  • São Bernardo (1934);
  • Angústi a (1936);
  • Vidas Secas (1938);
  • A Terra dos Meninos Pelados (1939);
  • Brandão Entre o Mar e o Amor (1942);
  • Histórias de Alexandre (1944);
  • Infância (1945);
  • Histórias Incompletas (1946);
  • Insônia (1947);
  • Memórias do Cárcere, póstuma (1953);
  • Viagem, póstuma (1954);
  • Linhas Tortas, póstuma (1962);
  • Viventes das Alagoas, póstuma (1962);
  • Alexandre e Outros Heróis, póstuma (1962);
  • Cartas, póstuma (1980);
  • O Estribo de Prata, póstuma (1984);
  • Cartas à Heloísa, póstuma (1992);

Traduções

Graciliano Ramos também dominava o inglês e o francês. Realizou algumas traduções:

  • Memórias de um Negro de Booker T. Washington, (1940);
  • A Peste de Albert Camus, (1951)

 

Genêro Literário: Mitos Gregos

 

Mitologia grega é o estudo dos conjuntos de narrativas relacionadas aos mitos dos gregos antigos, de seus significados e da relação entre eles e os povos — consideradas, com o advento do cristianismo, como meras ficções alegóricas. Para muitos estudiosos modernos, contudo, entender os mitos gregos é o mesmo que lançar luz sobre a compreensão da sociedade grega antiga e seu comportamento, bem como suas práticas ritualísticas. O mito grego explica as origens do mundo e os pormenores das vidas e aventuras de uma ampla variedade de deuses, deusas, heróis, heroínas e outras criaturas mitológicas.

Ao longo dos tempos, esses mitos foram expressos através de uma extensa coleção de narrativas que constituem a literatura grega e também na representação de outras artes, como a pintura da Grécia Antiga e a pintura vermelha em cerâmica grega. Inicialmente divulgados em tradição oral-poética, hoje esses mitos são tratados apenas como parte da literatura grega.Essa literatura abrange as mais conhecidas fontes literárias da Grécia Antiga: os poemas épicos Ilíada e Odisséia (ambos atribuídos a Homero e que focam sobre os acontecimentos em torno da Guerra de Tróia, destacando a influência de deuses e de outros seres), e também a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, ambos produzidos por Hesíodo. Os mitos também estão preservados nos Hinos homéricos, em fragmentos de poemas do Ciclo Épico, na poesia lírica, no âmbito dos trabalhos das tragédias do século V a.C., nos escritos de poetas e eruditos do Período Helenístico e em outros documentos de poetas do Império Romano, como Plutarco e Pausânias. A principal fonte para a pesquisa de detalhes sobre a mitologia grega são as evidências arqueológicas que descobrem e descobriram decorações e outros artefatos, como desenhos geométricos em cerâmica, datados do século VIII a.C., que retratam cenas do ciclo troiano e das aventuras de Hércules. Sucedendo os períodos Arcaico, Clássico e Helenístico, Homero e várias outras personalidades aparecem para completar as provas dessas existências literárias.

A mitologia grega tem exercido uma grande influência na cultura, nas artes e na literatura da civilização ocidental e permanece como parte da herança e da linguagem do Ocidente. Poetas e artistas desde os tempos antigos até o presente têm se inspirado na mitologia grega e descoberto que os temas mitológicos lhes legam significado e relevância em seu contemporâneo. Seu patrimônio também influi na ciência, como no caso dos nomes dados aos planetas do Sistema Solar e em estudos teóricos, acadêmicos, psicanalíticos, antropológicos e muitos outros, além de nos dias de hoje tradições neopagãs como a Wicca serem influenciadas por ela e outras como o dianismo, a Stregheria e principalmente o dodecateísmo (ou neopaganismo helênico) tenham tentado resgatar suas crenças.

Termo e compreensão

Num contexto acadêmico, a palavra "mito" significa basicamente qualquer narrativa sacra e tradicional, seja verdadeira ou falsa. O sufixo "-logia", derivado do radical grego "logo", representa um campo de estudo sobre um assunto em particular. Com a junção de ambos os termos, "mitologia grega" seria, basicamente, o estudo dos mitos gregos, ou seja, os que fazem parte da cultura da Grécia.Sendo assim, o termo não só alude ao estudo dos mitos como também aos próprios mitos. Como escreve o professor e escritor português Carlos Ceia, "termo de dupla significação, indica, por um lado, o conjunto dos mitos ou narrativas míticas relativas a seres sobrenaturais, fantásticos ou de valor superhumano e, por outro lado, o estudo ou interpretação dos mitos." É um termo crítico moderno e, portanto, os próprios gregos e romanos antigos não se referiam a suas crenças como "mitos" ou "mitologia", mas como religião (ver capítulo Interpretação), o que ainda hoje em dia ocorre com os neopaganistas helênicos, embora estes vivam um acontecimento moderno diferente de resgate e preservação e mesmo certos grupos de adeptos entendam o papel dos mitos como arquétipos ou símbolos (ver seção Neopaganismo e resgate).

Para mais informações sobre o histórico de interpretação dos mitos gregos, dirija-se até as sub-seções: Concepções greco-romanas e Interpretações modernas. É importante ressaltar que, nesse artigo, as palavras "mitologia" e "mito" são usadas para as narrativas tradicionais e sagradas das culturas clássicas, sem qualquer implicação de que esta ou aquela seja verdadeira ou falsa.

Mito e religião

É preciso haver um esclarecimento acerca da diferença entre mito e religião. Hoje, todas as mitologias de todos os povos são entendidas como um conjunto de crenças enraizadas em relatos modernamente tidos como fictícios e imaginados pelos poetas, enquanto a religião propõe-se a criar rituais ou práticas com a finalidade de estabelecer vínculos com a espiritualidade. "Mitologia" é um termo indiscutivelmente técnico e moderno e nunca utilizado pelos próprios gregos ou romanos.Seus cultos compreendiam uma religião politeísta da qual os especialistas de hoje agrupam no que se chama "mitologia grega", analisando as narrativas poéticas como legados da literatura antiga, ao passo que os próprios gregos, sobretudo antes da fama da filosofia, acreditavam serem reais. Pode-se dizer que "mito" é todo o conjunto que nós compreendemos hoje o que em suas épocas os gregos chamavam "religião".

Para ficar mais claro, podemos dizer que os textos sacros dos gregos são o que chamamos agora de mitologia ou literatura da Grécia antiga. A Teogonia e Os Trabalhos e os Dias de Hesíodo, a Ilíada e a Odisséia de Homero e as Odes de Píndaro estão entre as obras que os gregos consideravam sacros. Estes são os principais textos que foram considerados inspirados pelos deuses e geralmente incluem no prólogo uma invocação às Musas para que elas auxiliem o trabalho do poeta.

Os gregos faziam cultos os deuses do Olimpo, realizados em templos comuns ou em altares e, também, culto aos heróis históricos, realizados em suas respectivas tumbas. Dedicados a um deus ou a um herói, os templos, decorados com esculturas (de deuses ou heróis) em relevo entre o teto e o topo das colunas, eram constituídos de pedras nobres como o mármore, usadas no alto da acrópole.

Os antigos teatros gregos, também, eram construídos para determinada figura mitológica, deuses ou heróis, como o teatro de Dioniso no Santuário de Apolo em Delfos.Além da religião ter sido praticada através de festivais, nela se acreditava que os deuses interferiam diretamente nos assuntos humanos e que era necessário acalmá-los por meio de sacrifícios.Estes rituais de sacrifício desempenharam um papel importante na formação da relação entre o homem e o divino.

Fontes literárias

A narração mítica desempenhou um papel importante em quase todos os gêneros da literatura grega. No entanto, o único manual mitográfico que sobreviveu da Grécia Antiga foi a famosa Biblioteca Mitológica, do escritor denominado Pseudo-Apolodoro, que tenta conciliar os contos contraditórios dos poetas e fornece um resumo da mitologia grega e suas lendas históricas. O verdadeiro Apolodoro viveu entre c. 180-120 a.C., escreveu sobre muitos destes temas e seus escritos podem ter formado a base para a coleção dessa obra, porém a Biblioteca aborda eventos que ocorreram muito tempo após sua morte, daí o nome Pseudo-Apolodoro.

Entre as fontes literárias da primeira era, destacam-se os dois poemas épicos de Homero–Ilíada e Odisséia. Completando esse ciclo épico, temos escritas de poetas cujos documentos foram perdidos ao longo do tempo. Apesar da sua denominação tradicional, os Hinos homéricos, hinos em coral da primeira fase da então-denominada poesia lírica, não possuem relação alguma com Homero. Hesíodo, possível contemporâneo de Homero, produziu Teogonia, o documento mais recente sobre mitos gregos, que elabora uma genealogia dos deuses e explica a origem dos Titãs e dos Gigantes. Os Trabalhos e os Dias, também de Hesíodo, é um poema didático sobre a vida da agricultura que apresenta os mitos de Pandora e da Era dos Homens. O poeta dá conselhos sobre a melhor maneira de ter sucesso em um mundo perigoso tornado ainda mais arriscado por esses deuses. Os Trabalhos e os Dias também apresenta o mito de Prometeu, que, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de tragédias, possivelmente iniciada por Ésquilo, que são: Prometeu Acorrentado, Prometeu Desacorrentado e Prometeu, o Condutor do Fogo.

Os poetas líricos direcionaram por vezes seus temas aos mitos, todavia esse tratamento ficou cada vez menor, enquanto que sua alusões à narrativa cresceu. Os poetas líricos gregos, como Píndaro e Simónides de Ceos, e os poetas bucólicos, incluindo Teócrito, forneceram incidentes mitológicos individuais. Além disso, o mito foi tema central no drama Ateniense: os dramaturgos trágicos Eurípides, Sófocles e Ésquilo produziram seus enredos envolvendo a Era dos Heróis e a Guerra de Tróia. Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, Agamemnon e seus filhos, Édipo, Jasão e Medéia, etc.) trouxeram em sua forma clássica estas peças trágicas.

Os historiadores Heródoto e Diodoro Sículo, e os geógrafos Pausânias e Estrabão, que viajaram ao redor do mundo grego e anotaram as histórias que ouviram, forneceram numerosos mitos locais, apresentando diversas vezes versões alternativas pouco conhecidas dos mitos. Heródoto, especialmente, procurou as várias tradições apresentando e encontrando as raízes históricas ou mitológicas no conflito entre a Grécia e o Oriente. Heródoto procurou conciliar as origens e a mistura de diferentes conceitos culturais.

A poesia das eras Helenística e Romana, que embora tenha sido composta mais como literatura do que um exercício de culto aos mitos, contém muitos detalhes importantes que de outra forma seriam perdidos. Essa categoria inclui:

1. Os poetas romanos Ovídio, Sêneca e Virgílio.

2. Os poetas gregos da Antiguidade tardia: Antonino Liberal e Quinto de Esmirna.

3. Os poetas gregos do Período Helenístico: Apolónio de Rodes, Calímaco, Eratóstenes e Partênio.

4. Antigos romances de gregos e romanos, como Apuleio, Petrônio e Heliodoro.

Em contrapartida com o gênero lírico, a Fabulae e a Astronomica do escritor romano Higino são duas composições não-poéticas importantes sobre o mito. As obras Imagens e Descrições, de Filóstrato e Calístrato (respectivamente), são dois trabalhos literários úteis para o estudo dos mitos gregos.

Finalmente, o apologético cristão Arnóbio, citando práticas religiosas para desacreditá-las, e vários outros escritores bizantinos proporcionam detalhes importantes dos mitos, alguns deles procedentes de obras gregas perdidas durante os anos. Entre estes, inclui-se os léxicos de Hesíquio, a Suda, e os tratados de João Tzetzes e de Eustácio de Salônica. O ponto de vista moralizador cristão a respeito dos mitos gregos se resume no dito ἐν παντὶ μύθῳ καὶ τὸ Δαιδάλου μύσος (en panti muthōi kai to Daidalou musos, "em todo mito está a profanação de Dédalo"), sobre o que disse a Suda que alude o papel de Dédalo ao satisfazer a "luxúria antinatural" de Pasífae pelo trono de Poseídon: "Desde que a origem e a culpa desses males se atribuíram a Dédalo e foi odiado por eles, se converteu no objeto do provérbio."

Fontes arqueológicas

A descoberta da civilização micênica pelo arqueólogo amador alemão Heinrich Schliemann no século XIX, e a descoberta da civilização minóica em Creta pelo arqueólogo britânico Sir Arthur Evans no século XX, ajudaram a esclarecer muitas dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos sítios arqueológicos das civilizações micênica e minóica é inteiramente monumental, uma vez que a linear B (método de escrita antigo, encontrado em Creta e na Grécia continental) era usada principalmente para o registro de inventários, embora os nomes de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados.

Schliemann começou seu trabalho em 1870, com o intuito de averiguar se as histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois diademas de ouro, 4.066 plaquetas, 16 estatuetas, 24 colares de ouro, anéis, agulhas, pérolas (total de 8.700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas que a mítica cidade de Tróia existiu no local há milênios.

Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C. que retratam o Ciclo de Tróia, como também as aventuras de Hércules.Por dois motivos, essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de vaso antes do que na literatura escrita–das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura de Cérbero é apresentada pela primeira vez em um texto literário e, em segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira representação conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica.Nos períodos Arcaico (750–c. 500 a.C), Clássico ( 480–323 a.C), e Helenístico, Homero e várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.

História

"Os complexos fenómenos da natureza foram certamente os primeiros a serem explicados de forma fantástica, sendo aí que nasce verdadeiramente o primeiro conjunto de narrativas míticas organizadas em texto escrito, muito depois de terem circulado de geração em geração até ao tempo de Homero e de Hesíodo."

A origem dos mitos da Grécia não deriva puramente da civilização grega, mas de uma mistura entre a cultura dos indo-europeus, pré-gregos, e até mesmo dos asiáticos, egípcios e outros povos com as quais os gregos estabeleceram contato.

Um dos fatores de evolução da mitologia grega foi a grande transformação que ela experimentou através dos tempos, e tal transformação serviu para enriquecer sua própria cultura. Os primeiros habitantes da Península Balcânica, em grande parte agricultores, atribuíam a cada aspecto da natureza um espírito. Finalmente, estes espíritos vagos assumiram a forma humana e entraram na mitologia local como deuses e deusas. Quando as tribos do norte invadiram a Península Balcânica, trouxeram consigo um novo panteão de deuses e crenças, voltadas à conquista, à força e à valentia, à batalha e ao heroísmo violento. Outras divindades mais antigas que povoavam a mente dos habitantes agrícolas se fundiram com aquelas dos invasores mais poderosos, ou então desvaneceram-se na insignificância.

Após a metade do período arcaico, que possuía mitos sobre as relações entre homens e deuses masculinos, os heróis tornaram-se cada vez mais aclamados, indicando o desenvolvimento paralelo da pederastia pedagógica, que pensa-se ter sido introduzido por volta de 630 a.C. Nos finais do século V a.C, os poetas haviam atribuído pelo menos um eromenos a todos os deuses importantes, exceto Ares e outras figuras lendárias. Outros mitos anteriormente existentes, como o de Aquiles e o de Pátroclo, foram reinterpretadas como mitologia de relacionamentos atuais.

O sentido da poesia épica foi criar ciclos históricos, e resultar num desenvolvimento de um senso da cronologia mitológica; assim, a mitologia grega desdobra-se como uma etapa no desenvolvimento do mundo e do homem. As auto-contradições nas histórias fazem com que seja impossível montar um cronograma absoluto a respeito da Mitologia grega, mas podemos elaborar uma cronologia concordável. A história mitológica do mundo pode ser dividida em 3 ou 4 grandes períodos:

1. Mito da origem ou da era dos deuses: é a teogonia, o nascimento dos deuses, os mitos sobre a origem do planeta, dos deuses e da raça humana.

2. Era em que os homens e os deuses se mesclam livremente: histórias das primeiras interações entre deuses, semi-deuses e mortais juntos.

3. Era dos heróis (era heróica), onde a atividade divina ficou mais limitada. As últimas e maiores lendas heróicas são da Guerra de Tróia e suas consequências (consideradas por alguns investigadores como um quarto período separado).

Embora a Era dos deuses tem sido freqüentemente alvo de interesse pelos alunos contemporâneos da mitologia grega, os autores arcaicos e clássicos possuíam uma clara preferência pela Era dos heróis. As heróicas Ilíada e Odisséia, por exemplo, estavam e ainda se encontram atualmente sobre maior destaque que a Teogonia e que os hinos homéricos – e prevaleceram em popularidade e continuidade. Sob a influência de Homero, o culto heróico conduziu uma reestruturação na vida espiritual, expresso na separação entre o reino dos deuses do reino dos mortos (heróis), e dos deuses olímpicos dos ctónicos.No O Trabalho e Os Dias, Hesíodo monta um esquema de quatro Era dos homens (ou Raças): de Ouro, de Prata, de Bronze e de Ferro. Estas raças ou eras são criações separadas dos mitos dos deuses, correspondendo à Era Dourada ao reino de Cro nos e sendo as seguintes raças criações de Zeus. Hesíodo intercalou a Era (ou Raça) dos heróis pouco depois da Idade do Bronze. A ultima idade foi a Idade do Ferro. Em Metamorfoses, Ovídio segue o conceito de Hesíodo e apresenta essas quatro idades.

Deuses gregos

μο δ θαυμάσαι θεν τελεσάντων οδέν ποτε φαίνεται μμεν πιστον.
Para mim, quando os deuses realizam maravilhas, nada parece inacreditável.

—Píndaro, Pi, P. 10.48-50.

Quando Cronos tomou o lugar de Urano, tornou-se tão perverso quanto o pai. Com sua irmã Reia, procriou os primeiros deuses olímpicos (Héstia, Deméter, Hera, Hades, Poseídon e Zeus), mas logo os devorou enquanto nasciam, pelo medo de que um deles o destronasse. Mas Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu escapar do destino e travou uma guerra contra seu progenitor, cujo vencedor ganharia o trono dos deuses.Ao final, com a força dos Cíclopes–a quem libertou do Tártaro–Zeus venceu e condenou Cronos e os outros Titãs na prisão do Tártaro, depois de obrigar o pai a vomitar seus irmãos. Para a mitologia clássica, depois dessa destituição dos Titãs, um novo panteão de deuses e deusas surgiu. Entre os principais deuses gregos estavam os olímpicos- cuja limitação de seu número para doze parece ter sido uma idéia moderna, e não antiga - que residiam no Olimpo abaixo dos olhos de Zeus. Nesta fase, os olímpicos não eram os únicos deuses que os gregos adoravam: existiam uma variedade de divindades rupestres, como o deus-bode Pã, as ninfas— Náiades (que moravam nas nascentes), Dríades (espíritos das árvores) e as Nereidas (que habitavam o mar) —, deuses de rios, Sátiros e outras divindades que residiam em florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas, existiam no imaginário grego seres como as Erínias (ou Fúrias) (que habitavam o submundo), cuja função era perseguir os culpados de homicídio, má conduta familiar, heresia ou perjúrio.

Para honrar o antigo panteão grego, compôs-se os famosos hinos homéricos (conjunto de 33 canções). Alguns estudiosos, como Gregory Nagy, consideram que os hinos homéricos são simples prelúdios, se comparado com a Teogonia, onde cada hino invoca um deus. No entanto, os deuses gregos, embora poderosos e dignos de homenagens como as presentes nestes hinos, eram essencialmente humanos (praticavam violência, possuíam ciúme, coléra, ódio e inveja, tinham grandezas e fraquezas humanas), embora fossem donos de corpos físicos ideais. De acordo com o estudioso Walter Burkert, a definição para essa característica do antropomorfismo grego é que "os deuses da Grécia são pessoas, e não abstrações, idéias ou conceitos". Independentemente de suas formas humanas, os deuses gregos tinham muitas habilidades fantásticas, sendo as mais importantes: ter a condição de ser imúne a doenças, feridas e ao tempo; ter a capacidade de se tornar invisível; viajar longas distâncias instantaneamente e falar através de seres humanos sem estes saberem. Os gregos consideravam a imortalidade — que era assegurada pela alimentação constante de ambrosia e pela ingestão de néctar — como a característica distintiva dos deuses. Cada deus descende de uma genealogia própria, prossegue interesses próprios, tem uma certa área de especialização, e é regido por uma personalidade singular; no entanto, essas descrições surgem a partir de uma infinidade de locais arcaicos variantes, que não coincidem sempre com elas. Quando esses deuses eram aludidos na poesia, na oração ou em cultos, essas práticas eram realizadas mediante uma combinação de seus nomes e epítetos, que os identificavam por essas distinções do resto de suas próprias manifestações (e.x. Apolo Musageta era "Apolo, [como] chefe das Musas").

A maioria dos deuses foram associados a aspectos específicos de suas vidas: Afrodite, por exemplo, era deusa do amor e da beleza, Ares era deus da guerra, Hades o deus da morte, e Atena a deusa da sabedoria e da coragem.  Certos deuses, como Apolo e Dionísio, apresentam personalidades complexas e mais de uma função, enquanto outros, como Héstia e Hélios, revelam pequenas personificações. Os templos gregos mais impressionantes tendiam a estar dedicados a um número limitado de deuses, que foram o centro de grandes cultos panhelênicos. De maneira interessante, muitas regiões dedicavam seus cultos a deuses menos conhecidos e muitas cidades também honravam os deuses mais conhecidos com ritos locais característicos e lhes associavam mitos desconhecidos em outros lugares. Durante a era heróica — que veremos na próxima sub-seção — o culto dos heróis (ou semi-deuses) complementou a dos deuses e ambas as criaturas se fundiram no imaginário da Grécia.

Mestres da Literatura : William Shakespeare

  William Shakespeare (Stratford-upon-Avon, 26 de Abril de 1564 — Stratford-upon-Avon, 23 de Abril de 1616) foi um poeta e dramaturgo inglês, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. É chamado frequentemente de poeta nacional da Inglaterra e de "Bardo do Avon" (ou simplesmente The Bard, "O Bardo"). De suas obras restaram até os dias de hoje 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas narrativos, e diversos outros poemas. Suas peças foram traduzidas para os principais idiomas do globo, e são encenadas mais do que as de qualquer outro dramaturgo. Muitos de seus textos e temas, especialmente os do teatro, permaneceram vivos até aos nossos dias, sendo revisitados com frequência pelo teatro, televisão, cinema e literatura. Entre suas obras mais conhecidas estão Romeu e Julieta, que se tornou a história de amor por excelência, e Hamlet, que possui uma das frases mais conhecidas da língua inglesa: To be or not to be: that's the question (Ser ou não ser, eis a questão).

   Shakespeare nasceu e foi criado em Stratford-upon-Avon. Aos 18 anos, segundo alguns estudiosos, casou-se com Anne Hathaway, que lhe concedeu três filhos: Susanna, e os gêmeos Hamnet e Judith. Entre 1585 e 1592 William começou uma carreira bem-sucedida em Londres como ator, escritor e um dos proprietários da companhia de teatro chamada Lord Chamberlain's Men, mais tarde conhecida como King's Men. Acredita-se que ele tenha retornado a Stratford em torno de 1613, morrendo três anos depois. Restaram poucos registros da vida privada de Shakespeare, e existem muitas especulações sobre assuntos como a sua aparência física,crenças religiosas, e se algumas das obras que lhe são atribuídas teriam sido escritas por outros autores.

   Shakespeare produziu a maior parte de sua obra entre 15 90 e 1613. Suas primeiras peças eram principalmente comédias e obras baseadas em eventos e personagens históricos, gêneros que ele levou ao ápice da sofisticação e do talento artístico ao fim do século XVI. A partir de então escreveu apenas tragédias até por volta de 1608, incluindo Hamlet, Rei Lear e Macbeth, consideradas algumas das obras mais importantes na língua inglesa. Na sua última fase, escreveu um conjuntos de peças classificadas como tragicomédias ou romances, e colaborou com outros dramaturgos. Diversas de suas peças foram publicadas, em edições com variados graus de qualidade e precisão, durante sua vida. Em 1623 dois de seus antigos colegas de teatro publicaram o chamado First Folio, uma coletánea de suas obras dramáticas que incluía todas as peças (com a exceção de duas) reconhecidas atualmente como sendo de sua autoria.

Shakespeare foi um poeta e dramaturgo respeitado em sua própria época, mas sua reputação só viria a atingir o nível em que se encontra hoje no século XIX. Os românticos, especialmente, aclamaram a genialidade de Shakespeare, e os vitorianos idolatraram-no como um herói, com uma reverência que George Bernard Shaw chamava de "bardolatria".No século XX sua obra foi adotada e redescoberta repetidamente por novos movimentos, tanto na academia e quanto na performance. Suas peças permanecem extremamente populares hoje em dia e são estudadas, encenadas e reinterpretadas constantemente, em diversos contextos culturais e políticos, por todo o mundo.

Acredita-se que William Shakespeare foi filho de John Shakespeare, um bem-sucedido luveiro e sub-prefeito de Straford (depois comerciante de lãs), vindo de Snitterfield, e Mary Arden, filha afluente de um rico proprietário de terras. Embora a sua data de nascimento seja desconhecida, admite-se a de 23 de Abril de 1564 com base no registro de seu batizado, a 26 do mesmo mês, devido ao costume, à época, de se batizarem as crianças três dias após o nascimento. Shakespeare foi o terceiro filho de uma prole de oito e o mais velho a sobreviver.

Muitos concordam que William foi educado em uma excelente grammar schools da época, um tipo de preparação para a Universidade. No entanto, Park Honan conta, em Shakespeare, uma vida que John foi obrigado a tirá-lo desta escola, quando William deveria ter quinze ou dezesseis anos (algumas fontes citam doze anos). Na década de 1570, John passou a ter um declínio econômico que o impossibilitou junto aos credores e teve um desagradável descenso da sociedade. Acredita-se que, por causa disso, o jovem Shakespeare possuiu uma formação colegial incompleta. Segundo certos biógrafos, Shakespeare precisou trabalhar cedo para ajudar a família, aprendendo, inclusive, a tarefa de esquartejar bois e até abater carneiros.

Em 1582, aos 18 anos de idade, casou-se com Anne Hathaway, uma mulher de 26 anos, que estava grávida. Há fontes que dizem que Shakespeare queria ter uma vida mais favorável ao lado de uma esposa rica. O casal teve uma filha, Susanna, e dois anos depois, os gêmeos Hamnet e Judith.

Após o nascimento dos gêmeos, há pouquíssimos vestígios históricos a respeito de Shakespeare, até que ele é mencionado como parte da cena teatral de Londres em 1592. Devido a isso, estudiosos referem-se aos anos de 1585 a 1592 como os Anos perdidos de Shakespeare.

As tentativas de explicar por onde andou William Shakespeare durante esses seis anos foram o motivo pelo qual surgiram dezenas de anedotas envolvendo o dramaturgo. Nicholagas Rowe, o primeiro biógrafo de Shakespeare, conta que ele fugiu de Stratford para Londres devido a uma acusação envolvendo o assassinato de um veado numa caça furtiva, em propriedade alheia (provavelmente de Thomas Lucy). Outra história do século XVIII é a de que Shakespeare começou uma carreira teatral com os Lord Chamberlains.

Londres e carreira teatral

Foi em Londres onde se atribui a Shakespeare seus momentos de maiores oportunidades para destaque. Não se sabe de exato quando Shakespeare começara a escrever, mas alusões contemporâneas e registros de performances mostram que várias de suas peças foram representadas em Londres em 1592. Neste período, o contexto histórico favorecia o desenvolvimento cultural e artístico, pois a Inglaterra vivia os tempos de ouro sob o reinado da rainha Elizabeth I. O teatro deste período, conhecido como teatro elisabetano, foi de grande importância e primor para os ingleses da alta sociedade. Na época, o teatro também era lido, e não apenas assistido e encenado. Havia companhias que compravam obras de autores em voga e depois passavam a vender o repertório às tipografias. As tipografias imprimiam os textos e vendiam a um público leitor que crescia cada vez mais. Isso fazia com que as obras ficassem em domínio público.

Biógrafos sugerem que sua carreira deve ter começado em qualquer momento a partir de meados dos anos 1580. Ao lado do The Globe, haveria um matadouro, onde aprendizes do açougue deveriam trabalhar. Ao chegar em Londres, há uma tradição que diz que Shakespeare não tinha amigos, dinheiro e estava pobre, completamente arruinado. Segundo um biógrafo do século XVIII, ele foi recebido pela companhia, começando num serviço pequeno, e logo fora subindo de cargo, chegando provavelmente à carreira de ator. Há referências que apresentam Shakespeare como um cavalariço. Ele dividiria seu emprego entre tomar conta dos cavalos dos espectadores do teatro, atuar no palco e auxiliar nos bastidores. Segundo Rowe, Shakespeare entrou no teatro como ponto, encarregado de avisar os atores o momento de entrarem em cena. O então cavalariço provavelmente tinha vontade mesmo era de atuar e de escrever.

Seu talento limitante como ator teria o inspirado a conhecer como funcionava o teatro e seu poeta interior foi floreando, floreando, foi lembrando-se dos textos dos mestres dramáticos da escola, e começou a experimentar como seria escrever para teatro. Desde 1594, as peças de Shakespeare foram realizadas apenas pelo Lord Chamberlain's Men. Com a morte de Elizabeth I, em 1603, a companhia passou a atribuir uma patente real ao novo rei, James I da Inglaterra, mudando seu nome para King's Men (Homens do Rei).

Todas as fontes marcam o ano de 1599 como o ano da fundação oficial do Globe Theatre. Fundado por James Burbage, ostentava uma insígnia de Hércules sustentando o globo terrestre. Registros de propriedades, compras, investimentos de Shakespeare o tornou um homem rico. William era sócio do Globe, um edifício que tinha forma octogonal, com abertura no centro. Não existia cortina e, por causa disso, os personagens mortos deveriam ser retirados por soldados, como mostra-se em Hamlet. Inclusive, todos os papéis eram representados pelos homens, sendo os mais jovens os encarregados de fazerem papéis femininos. Em 1597, fontes dizem que ele comprou a segunda maior casa em Stratford, a New Place. De 1601 a 1608, especula-se que ele esteve motivado para escrever Hamlet, Otelo e Macbeth. Em 1613, O Globe Theatre foi destruído pelo fogo. Alguns biógrafos dizem que foi durante a representação da peça Henry VIII.

Shakespeare teria estado um tanto cansado e por esse motivo resolveu se desligar do Globe e voltar para Stratford, onde a família o esperava.

Últimos anos e morte

Após 1606-7, Shakespeare escreveu peças menores, que jamais são atribuídas como suas após 1613. Suas últimas três obras foram colaborações, talvez com John Fletcher, que sucedeu-lhe com o cargo de dramaturgo no King's Men. Escreveu a sua última peça, A Tempestade terminada somente em 1613.

Então, Rowe foi o primeiro biógrafo a dizer que Shakespeare teria voltado para Stratford algum tempo antes de sua morte; mas a aposentadoria de todo o trabalho era rara naquela época; e Shakespeare continuou a visitar Londres. Em 1612, foi chamado como testemunha em um processo judicial relativo ao casamento de sua filha Susanna. Em março de 1613, comprou uma gatehouse no priora do de Blackfriars; a partir de novembro de 1614, ficou várias semanas em Londres ao lado de seu genro John Hall.

William Shakespeare morreu em 23 de Abril de 1616, mesmo dia de seu aniversário. Susanna havia se casado com um médico, John Hall, em 1607, e Judith tinha se casado com Thomas Quiney, um vinificador, dois meses antes da morte do pai. A morte de Shakespeare envolve mistério ainda hoje. No entanto, é óbvio que existam diversas anedotas. A que mais se propagou é a de que Shakespeare estaria com uma forte febre, causada pela embriaguez. Recebendo a visita de Ben Jonson e de Michael Drayton, Shakespeare bebeu demais e, segundo diversos biógrafos, seu estado se agravou.

Bom amigo, por Jesus, abstém-te
de profanar o corpo aqui enterrado.
Bendito seja o homem que respeite estas pedras,
e maldito o que remover meus ossos.

Epitáfio na tumba de Shakespeare

Admite-se que Shakespeare deixou como herança sua segunda melhor cama para a esposa. Em sua vontade, ele deixou a maior parte de sua propriedade à sua filha mais velha, Susanna. Essa herança intriga biógrafos e estudiosos porque, afinal, como Anne Hathaway aguentaria viver mais ou menos vinte anos cuidando de seus filhos, enquanto Shakespeare fazia fortuna em Londres? O escritor inglês Anthony Burgess tem uma explicação ficcional sobre esse assunto. Em Nada como o Sol, um livro de sua autoria, ele cita Shakespeare espantado em um quarto diante de seu irmão Richard e de sua esposa Anne; estavam nus e abraçados.

Os restos mortais de Shakespeare foram sepultados na igreja da Santíssima Trindade (Holy Trinity Church) em Stratford-upon-Avon. Seu túmulo mostra uma estátua vibrante, em pose de literário, mais vivo do que nunca. A cada ano, na comemoração de seu nascimento, é colocada uma nova pena de ave na mão direita de sua estátua. Acredita-se que Shakespeare temia o costume de sua época, em que provavelmente havia a necessidade de esvaziar as mais antigas sepulturas para abrir espaços à novas e, por isso, há um epitáfio na sua lápide, que anuncia a maldição de quem mover seus ossos.

Após a morte de Shakespeare, a Inglaterra passou por alguns importantes momentos políticos e religiosos. Jaime I morreu em 27 de março de 1625, em Theobalds House, e tão logo sua morte foi anunciada, Carlos I, seu filho com Ana da Dinamarca, assumiu o reinado. É válido lembrar que, com a morte de Elizabeth I, Shakespeare e os demais dramaturgos da época não foram prejudicados. Jaime I, o sucessor da rainha, contribuiu para o florescimento artístico e cultural inglês; era um apaixonado por teatro.

Em 1649, a Câmara dos Comuns cria uma corte para o julgamento de Carlos I. Era a primeira vez que um monarca seria julgado na história da Inglaterra. No dia 29 de janeiro do mesmo ano, Carlos I foi condenado a morte por decapitação. Ele foi decapitado no dia seguinte. Foi enterrado no dia 7 de fevereiro na Capela de St.George do Castelo de Windsor em uma cerimônia privada.

Nota: É bem conhecida a coincidência das datas de morte de dois dos grandes escritores da humanidade, Miguel de Cervantes e William Shakespeare, ambos com data de falecimento em 23 de Abril de 1616). Porém, é importante notar que o Calendário gregoriano já era utilizado na Espanha desde o século XVI, enquanto que na Inglaterra sua adoção somente ocorreu em 1751. Daí, em realidade, Miguel de Cervantes faleceu dez dias antes de William Shakespeare.

Peças

Os eruditos costumam anotar quatro períodos na carreira de dramaturgia de Shakespeare. Até meados de 1590, escreveu principalmente comédias, influenciado por modelos das peças romanas e italianas. O segundo período iniciou-se aproximadamente em 1595, com a tragédia Romeu e Julieta e terminou com A Tragédia de Júlio César, em 1599. Durante esse tempo, escreveu o que são consideradas suas grandes comédias e histórias. De 1600 a 1608, o que chamam de "período sombrio", Shakespeare escreveu suas mais prestigiadas tragédias: Hamlet, Rei Lear e Macbeth. E de aproximadamente 1608 a 1613, escrevera principalmente tragicomédias e romances.

Os primeiros trabalhos gravados de Shakespeare são Ricardo III' e as três partes de Henry V, escritas em 1590, adiantados durante uma moda para o drama histórico. É difícil datar as primeiras peças de Shakespeare, mas estudiosos de seus textos sugerem que A Megera Domada, A Comédia dos Erros e Titus Andronicus pertencem também ao seu primeiro período. Suas primeiras histórias, parecem dramatizar os resultados destrutivos e fracos ou corruptos do Estado e têm sido interpretadas como uma justificação para as origens da dinastia Tudor. Suas composições foram influenciadas por obras de outros dramaturgos isabelinos, especialmente Thomas Kyd e Christopher Marlowe, pelas tradições do teatro medieval e pelas peças de Sêneca. A Comédia dos Erros também foi baseada em modelos clássicos.

As clássicas comédias de Shakespeare, contendo plots (centro da ação, o núcleo da história) duplos e sequências cênicas de comédia, cederam, em meados de 1590, para uma atmosfera romântica em que se encontram suas maiores comédias. Sonho de uma Noite de Verão é uma mistura de romance espirituoso, fantasia, e envolve também a baixa sociedade. A sagacidade das anotações de Muito Barulho por Nada', a excelente definição da área rural de Como Gostais, e as alegres sequências cênicas de Noite de Reis completam essa sequência de ótimas comédias. Após a peça lírica Ricardo II, escrito quase inteiramente em versículos, Shakespeare introduziu em prosa as histórias depois de 1590, incluindo Henry VI, parte I e II, e Henry V.

Seus personagens tornam-se cada vez mais complexos e alternam entre o cômico e o dramático ou o grave, ou o trágico, expandindo, dessa forma, suas próprias identidades. Esse período entre essas tais alternações começa e termina com duas tragédias: Romeu e Julieta, sem dúvida alguma sua peça mais famosa e a história sobre a adolescência, o amor e a morte; e Júlio César. O período chamado "período trágico" durou de 1600 a 1608, embora durante esse período ele tenha escrito também a "peça cômica" Medida por medida. Muitos críticos acreditam que as maiores tragédias de Shakespeare representam o pico de sua arte. Seu primeiro herói, Hamlet, provavelmente é o personagem shakespeariano mais discutido do que qualquer outro, em especial pela sua frase "Ser ou não ser, eis a questão". Ao contrário do reflexivo e pensativo Hamlet, os heróis das tragédias que se seguiram, em especial Otelo e Rei Lear, são precipitados demais e mais agem do que pensam. Essas precipitações sempre acabam por destruir o herói e frequentemente aqueles que ele ama. Em Otelo, o vilão Iago acaba assassinando sua mulher inocente, por quem era apaixonado. Em Rei Lear, o velho rei comete o erro de abdicar de seus poderes, provocando cenas que levam ao assassinato de sua filha e à tortura e a cegueira do Conde de Glócester. Segundo o crítico Frank Kermode, "a peça não oferece nenhum personagem divino ou bom, e não supre da audiência qualquer tipo de alívio de sua crueldade". Em Macbeth, a mais curta e compactada tragédia shakespeariana, a incontrolável ambição de Macbeth e sua esposa, Lady Macbeth, de assassinar o rei legítimo e usurpar seu trono, até à própria culpa de ambos diante deste ato, faz com que os dois se destruam. Portanto, Hamlet seria seu personagem talvez mais admirado. Hamlet reflete antes da ação em si, é inteligente, perceptivo, observador, profundamente proprietário de uma grande sabedoria diante dos fatos. Suas últimas e grandes tragédias, Antônio e Cleópatra e Coriolano contêm algumas das melhores poesias de Shakespeare e foram consideradas as tragédias de maior êxito pelo poeta e crítico T.S. Eliot.

No seu último período, Shakespeare centrou-se na tragicomédia e no romance, completando suas três mais importantes peças dessa fase: Cimbelino, Conto de Inverno e A Tempestade, e também Péricles, príncipe de Tiro. Menos sombrias do que as tragédias, essas quatro peças revelam um tom mais grave da comédia que costumavam produzir na década de 1590, mas suas personagens terminavam com reconciliação e o perdão de seus erros. Certos comentadores vêem essa mudança de estilo como uma forma de visão da vida mais serena por parte de Shakespeare. Shakespeare colaborou com mais dois trabalhos, Henry VIII e Dois parentes nobres, provavelmente com John Fletcher.

Performances

Ainda não está claro para as companhias as datas exatas de quando Shakespeare escreveu suas primeiras peças. O título da página da edição de 1594 de Titus Andronicus revela que a peça havia sido encenada por três diferentes companhias. Após a peste negra de 1592-3, as peças shakespearianas foram realizadas por sua própria empresa no The Theatre e no The Curtain, em Shoreditch. As multidões londrinas foram ver a primeira parte de Henrique IV. Depois de uma disputa com o caseiro, o teatro foi desmantelado e a madeira usada para a construção do Globe Theatre, a primeira casa de teatro construída por atores para atores. A maioria das peças shakespearianas pós-1599 foram escritas para o Globe, incluindo Hamlet, Otelo e Rei Lear.

Quando a Lord Chamberlain's Men mudou seu nome para King's Men, em 1603, eles entraram com uma relação especial com o novo rei, James I. Embora as performances realizadas são díspares, o King's Men realizou sete peças shakespearianas perante à corte, entre 1 de novembro de 1604 e 31 de outubro de 1605, incluindo duas performances de O mercador de Veneza. Depois de 1608, eles a realizaram no teatro Blackfriars Theatre. A mudança interior, combinada com a moda jacobina de aprimorar a montagem dos palcos e cenários, permitiu com que Shakespeare pudesse introduzir uma fase com dispositivos e recursos mais elaborados. Em Cibelino, por exemplo, "Júpiter desce em trovão e relâmpagos, sentado em uma águia e lança um raio".

Os atores da empresa de Shakespeare incluem o famoso Richard Burbage, William Kempe, Henry Condell e John Heminges. Burbage desempenhou um papel de liderança em muitas performances das peças de Shakespeare, incluindo Richard III, Hamlet, Otelo e Rei Lear. O popular ator cômico Will Kempe encenou o agente Peter em Romeu e Julieta e também encenou em Muito barulho por nada. Kempe fora substituído na virada do século XVI por Robert Armin, que desempenhou papéis como a de Touchstone em Como Gostais e os palhaços no Rei Lear. Sabe-se que em 1613, Sir Henry Wotton encenou Henry VIII e foi nessa encenação que o Globe foi devorado por um incêndio causado por um canhão. Imagina-se que Shakespeare, já retirado em Stratford-on-Avon, retornou para auxiliar na recuperação do prédio.

Imortalidade

Em 1623, John Heminges e Henry Condell, dois amigos de Shakespeare no King's Men, publicaram uma compilação póstuma das obras teatrais de Shakespeare, conhecida como First Folio. Contém 36 textos, sendo que 18 impressos pela primeira vez. Não há evidências de que Shakespeare tenha aprovado essa edição, que o First Folio define como "stol'n and surreptitious copies". No entanto, é nele em que se encontram um material extenso e rico do trabalho de Shakespeare.

As peças shakespearianas são peculiares, complexas, misteriosas e com um fundo psicológico espantoso. Uma das qualidades do trabalho de Shakespeare foi justamente sua capacidade de individualizar todos seus personagens, fazendo com que cada um se tornasse facilmente identificado. Shakespeare também era excêntrico e se adaptava a gêneros diferentes. Trabalhando com o sombrio e com o divertido ou cômico, Shakespeare conseguiu chegar perto da unanimidade.

Diversos filósofos e psicanalistas estudaram as obras de Shakespeare e a maioria encontrou uma riqueza psicológica e existencial. Entre eles, Arthur Schopenhauer, Freud e Goethe são os que mais se destacam. No Brasil, Machado de Assis foi muito influenciado pelo dramaturgo. Diversas fontes alegam que Bentinho, de Dom Casmurro, seja a versão tropical de Otelo. A revolta dos canjicas, em O Alienista, é provavelmente uma outra versão da revolta fracassada do Jack Cage, descrita em Henrique IV. Na introdução de A Cartomante, Assis utiliza a frase "há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe vossa vã filosofia", frase que pode ser encontrada em Hamlet.

Poemas

Em 1593 e 1594, quando os teatros foram fechados por causa da peste, Shakespeare publicou dois poemas, hoje conhecidos como Vênus e Adônis e O Rapto de Lucrécia. Ele os dedica a Henry Wriothesley, o que fez com que houvesse várias especulações a respeito dessa dedicatória, fato esse que veremos mais tarde. Em Vênus e Adônis, um inocente Adônis rejeita os avanços de Vênus (mitologia); enquanto que o segundo poema descreve a virtuosa esposa Lucrécia que é raptada. Ambos os poemas, influenciados pela obra Metamorfoses, do poeta latino Ovídio, demonstram a culpa e a confusão moral que resultam numa determinada volúpia descontrolada. Ambos tornaram-se populares e foram diversas vezes republicados durante a vida de Shakespeare. Uma terceira narrativa poética, A Lover's Complaint, em que uma jovem lamenta seu amor por um persuasivo homem que a cortejou, fora impresso na primeira edição do Sonetos em 1609. A maioria dos estudiosos hoje em dia aceitam que fora Shakespeare quem realmente escreveu o soneto A Lover's Complaint. Os críticos consideram que suas qualidades são finas e dirigidas por efeitos.

Sonetos

Publicado em 1609, a obra Sonetos foi o último trabalho publicado de Shakespeare sem fins dramáticos. Os estudiosos não estão certos de quando cada um dos 154 sonetos da obra foram compostos, mas evidências sugerem que Shakespeare as escreveu durante toda sua carreira para leitores particulares.

Ainda fica incerto se estes números todos representam pessoas reais, ou se abordam a vida particular de Shakespeare, embora Wordsworth acredite que os sonetos abriram suas emoções. A edição de 1609 foi dedicada a "Mr. WH", creditado como o único procriados dos poemas. Não se sabe se isso foi escrito por Shakespeare ou pelo seu editor Thomas Thorpe, cuja sigla aparece no pé da página da dedicação; nem se sabe quem foi Mr. WH, apesar de inúmeras teorias terem surgido a respeito.

Os críticos elogiam os sonetos e comentam que são uma profunda meditação sobre a natureza do amor, a morte e o tempo.

Especulações quanto à sua identidade

Alguns estudiosos e pesquisadores acreditam na hipótese de que Shakespeare não seja realmente o autor das próprias obras, discutindo a questão da identidade de Shakespeare.